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CAPÍTULO TRÊS -
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As cartas de ninguém
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A fuga da jibóia brasileira rendeu a
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Harry o seu castigo mais longo. Na altura
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em que lhe
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permitiram
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sair do armário, as
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férias de verão já haviam começado e
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Duda já quebrara a nova filmadora,
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acidentara o aeromodelo e, na primeira vez
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que andara na bicicleta de corrida,
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derrubara a velha Sra. Figg quando ela.
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atravessava a rua dos Alfeneiros de
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muletas.
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Harry ficou contente que as aulas tivessem acabado,
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mas não conseguia escapar da turma de Duda, que
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visitava a casa todo dia. Pedro, Dênis, Malcolm e
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Górdon eram todos grandes e burros, mas como Duda
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era o maior e o mais burro do bando, era o líder Os
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demais ficavam bastante felizes de participar do
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esporte favorito de Duda: perseguir Harry.
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Por esta razão Harry passava a maior parte do tempo
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possível fora de casa, perambulando e pensando no fim
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das férias, no qual conseguia vislumbrar um raiozinho
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de esperança. Quando setembro chegasse ele iria para a
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escola secundária. e, pela primeira vez na vida, não
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estaria em companhia de Duda. Duda tinha uma vaga
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na antiga escola. de tio Válter, Smeltings. Pedro ia
para
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lá também- Harry por outro lado, ia para a escola
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secundária local. Duda achava muita graça nisso.
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- Eles metem a cabeça dos garotos no vaso sanitário
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no primeiro dia de escola - contou ele a Harry -, quer
ir
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lá em cima praticar?
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- Não, obrigado - respondeu Harry - O coitado do
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vaso nunca recebeu. nada tão horrível quanto a sua
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cabeça, é capaz de passar mal. - E correu. antes que
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Duda conseguisse entender o que dissera.
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Certo dia de julho, tia Petunia levou Duda a Londres
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para comprar o uniforme da Smeltings e deixou Harry
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com a Sta. Figg. A Sra. Figg não estava tão ruim
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quanto de costume. Afinal, fraturara a perna porque
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tropeçara em um dos gatos e não parecia gostar tanto
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deles quanto antes. Deixou Harry assistir a televisão
e
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lhe deu um pedaço de bolo de chocolate que pelo
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gosto parecia ter muitos ano.
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Naquela noite, Duda desfilou para a família reunida
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na sala de estar vestindo o uniforme novo da
Smeltings.
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Os alunos da Smeltings usavam casaca
marromavermelhada,
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calções cor de laranja e chapéus de palha.
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Carregavam também bengalas nodosas, que usavam
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para bater uns nos outros quando os professores não
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estavam olhando. isto era considerado um bom
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treinamento para o futuro.
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Ao contemplar Duda nos calções laranja novos, tio
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Válter disse com a voz embargada que aquele era o
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momento de maior orgulho em sua vida. Tia Petúnia
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rompeu em lágrimas e disse que não podia acreditar
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que era o seu Dudinha, estava tão bonito e adulto.
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Harry não confiou no que poderia dizer. Achou que
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duas de suas costelas talvez já tivessem partido só
com
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o esforço para não rir.
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Havia um cheiro horrível na cozinha na manhã
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seguinte quando Harry entrou para o café da manhã.
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Parecia vir de uma panela tina de metal dentro da pia.
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Ele se aproximou para espiar. A tina aparentemente
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estava cheia de trapos sujos que boiavam na água
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cinzenta.
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O que é isso? perguntou à tia Petúnia.. Os lábios
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dela se contrairam como costumavam fazer quando ele
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se atrevia a fazer uma pergunta.
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O seu uniforme novo de escola - respondeu.
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Harry espiou para dentro da tina outra vez.
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- Ah - comentou -, eu não sabia que tinha que ser tão
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molhado.
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- Não seja idiota - retorquiu tia Petúnia com
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rispidez. - Estou tingindo de cinza umas roupas velhas
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de Duda para você. Vão ficar iguaizinhas às dos outros
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quando eu terminar.
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Harry tinha sérias dúvidas, mas achou melhor não
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discutir. Sentou-se à mesa e tentou pensar na
aparência
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que teria no primeiro dia de aula como se estivesse
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usando retalhos de pele de elefante velho,
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provavelmente.
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Duda e tio Válter entraram ambos com os narizes
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franzidos por cansa do cheiro do novo uniforme de
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Harry. Tio Válter abriu o jornal como sempre fazia e
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Duda bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que
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ele carregava para todo lado.
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Ouviram o clique da portinhola para cartas e o som
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da correspondência caindo no capacho da porta.
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Apanhe o correio, Duda - disse tio Válter por trás do
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jornal.
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- Mande o Harry apanhar.
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- Apanhe o correio Harry.
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- Mande o Duda apanhar.
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- Cutuque ele com a bengala da Smeltings, .Duda.
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Harry se esquivou da bengala da Smeltings e foi
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apanhar o correio. Havia três coisas no capacho: um
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postal da irmã do tio Válter, Guida, que estava
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passando férias na ilha de Wihgt, um envelope
pardo
que parecia uma conta e -uma
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carta para Harry.
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Harry apanhou-a e ficou olhando, o coração
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vibrando como um elástico gigante- Ninguém, jamais,
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em toda a sua vida, lhe escrevera.- Quem escreveriar?
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Ele não tinha amigos, nem outros parentes - não era
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sócio da biblioteca, de modo que jamais recebera
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sequer os bilhetes grosseiros pedindo a devolução de
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livros. Contudo, ali estava, uma carta, endereçada tão
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claramente que não podia haver engano.
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Sr. H Potter
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O Armário sob a Escada
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Rua dos Alfeneiros 4
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Little Whinging
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Surrey
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O envelope era grosso e pesado, feito de
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pergaminho amarelado e endereçado com tinta
verdeesmeralda.
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Não havia selo.
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Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Harry
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viu um
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lacre de cera púrpura com um brasão; um leão, uma
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águia, um texugo e uma cobra circulando uma grande
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letra "H".
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-Anda depressa, moleque! - gritou tio Válter da
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cozinha. fazendo o quê, procurando cartas-bombas? - E
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riu da própria piada.
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Harry voltou à cozinha, ainda de olhos fixos na
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carta. Entregou a conta e o postal ao tio Válter,
sentouse
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e começou a abrir lentamente o envelope amarelo.
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Tio Válter rasgou o envelope da conta, deu um
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bufo de desdém e virou o postal.
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está doente - informou à tia Petúnia. - Comeu um
marisco
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suspeito...
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exclamou Duda de repente. - Pai, Harry recebeu
uma
carta!
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Harry ia desdobrar a carta, escrita no mesmo
pergaminho que o
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envelope, quando tio Válter arrancou-a de sua mão.
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- É minha! - disse Harry, tentando recuperá-la.
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-Quem iria escrever para você? - zombou tio
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Válter, sacudindo a carta com uma das mãos
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para desdobrá-la e percorrendo com o olhar.
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Seu rosto passou de vermelho para verde mais
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rápido que um sinal de tráfego. E não parou ai.
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Segundos depois ficou branco-acinzentado,
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cor de mingau de aveia velho.
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- P-P-Petúnia! - ofegou.
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Duda tentou agarrar a carta para lê-la, mas tio Válter
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segurou-a no alto fora do seu alcance. Tia Petúnia
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apanhou-a cheia de curiosidade leu a primeira linha.
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Por um instante pareceu que ela
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talvez fosse desmaiar. Levou as duas mãos à
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garganta e produziu ruído de engasgo.
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- Válter! Ah, meu Deus, Válter!
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Eles se encararam parecendo ter esquecido que
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Harry e Duda continuavam na cozinha. Duda não
|
estava acostumado a ser desprezado. Deu uma
|
bengalada forte na cabeça do pai.
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- Quero ler esta carta - falou alto.
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-Quero lê-la - disse Harry furioso -, porque é
|
minha..
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- Saiam, os dois - ordenou com voz rouca tio Válter,
|
enfiando a carta no envelope.
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Harry não se mexeu .
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- QUERO MINHA CARTA! Gritou.
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- Me deixa ver ! - exigiu Duda.
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- Fora ! - berrou Tio Válter, e agarrando os dois
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Harry e Duda pelo cangote atirou-os no corredor e
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bateu a porta da cozinha. Harry e Duda na mesma hora
|
tiveram uma briga furiosa mas, silenciosa, para saber
|
quem ia escutar à fechadura; Duda ganhou, por isso
|
Harry, os óculos pendurados em uma orelha,
deitou-se
de barriga no chão para escutar pela fresta entre a
porta
|
e o chão.
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- Válter - disse tia Petúnia com voz trêmula -, olhe
|
'so o endereço. Como é que eles poderiam saber onde
|
ele dorme? Você acha que estão vigiando a casa?
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- Vigiando, espionando, talvez nos seguindo -
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murmurou tio Válter enlouquecido.
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Harry via os sapatos pretos lustrosos do tio Válter
|
andando para cá e para lá na cozinha.
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- Não - disse ele decidido.- Não, vamos ignorá-la. Se
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não receberem uma resposta... É, é o melhor... não
|
vamos fazer nada...
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- Mas...
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- Não vou ter um deles em casa, Petúnia! Nós não
|
juramos quando o recebemos que íamos acabar com
|
aquela bobagem perigosa?
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Aquela noite, quanto voltou do trabalho, tio Válter
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fez uma coisa que nunca fizera antes; visitou Harry no
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armário.
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- Cadê minha carta ? - perguntou Harry, no instante
|
em que tio Válter se espremeu pela porta. - Quem me
|
escreveu?
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- Ninguém . Endereçaram a você por engano - disse
|
tio Válter secamente. - Queimei a carta.
|
-
|
Não
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foi um engano - retrucou Harry com raiva, -
|
tinha o endereço do meu armário.
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- CALADO! - gritou tio Válter e algumas aranhas
|
caíram do teto. Ele inspirou algumas vexes e então fez
|
força para produzir um sorriso que pareceu bem
|
penoso.
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Hum, sim, Harry sobre este armário. Sua tia e eu
|
estivemos pensando...você realmente está ficando
|
grande demais para ele... achamos que seria bom se
|
você se mudasse para o segundo quarto de Duda.
|
- Por quê? - perguntou Harry.
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34
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- Não faça perguntas - disse com rispidez o
|
tio. Leve essas coisas para cima agora. A casa
|
dos Dursley tinha quatro quartos: um para tio
|
Válter e tia Petúnia, um para hóspedes (em
|
geral a irmã de tio Válter, Guida), um onde
|
Duda dormia e um onde Duda guardava todos
|
os brinquedos e pertences que não cabiam no
|
primeiro quarto. Harry precisou de apenas
|
uma viagem para mudar tudo o que tinha do
|
armário para o quarto no andar de cima.
|
Sentou-se na cama e deu uma olhada à sua
|
volta. Quase tudo ali estava quebrado.
|
À
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filmadora com apenas um mês de uso estava
|
jogada em cima de um pequeno tanque com
|
que certa vez Duda atropelara o cachorro do
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vizinho; no canto estava o primeiro televisor
|
de Duda, no qual ele enfiara o pé quando seu
|
programa favorito fora cancelado; havia uma
|
grande gaiola de pássaros, antigamente
|
habitada por um. papagaio que Duda trocara
na escola por uma espingarda de ar de
|
verdade, e que estava guardada numa
|
prateleira com a ponta dobrada porque Duda
|
se sentara em cima dela. Outras prateleiras
|
estavam cheias de livros. Eram as únicas
|
coisas no quarto que pareciam nunca ter sido
|
tocadas.
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Lá de babo veio o barulho de Duda gritando
|
com a mãe:
|
- Eu não quero ele lá...eu preciso
|
daquele quarto....mande ele sair:
|
Harry suspirou e se esticou na cama. Ontem ele teria
|
dado qualquer coisa para estar ali. Hoje, preferia
estar
|
no seu armário
|
aquela carta do que ali encima sem ela. Na
manhã seguinte, no café, todos estavam muito
|
quietos. Duda estava em estado de choque.
|
Berrara, batera no pai com a bengala, vomitara
|
de propósito, dera pontapés na mãe e atirara
|
sua tartaruga pelo teto da estufa de plantas e
|
nem assim conseguira o quarto de volta. Harry
|
pensava no dia anterior àquela hora, desejando
|
com amargura que tivesse aberto a carta no
|
hall. Tio Válter e tia Petúnia. se entreolhavam,
|
ameaçadores.
|
Quando o correio chegou tio Válter; que parecia. estar
|
tentando ser agradável com Harry; fez Duda ir buscálo.
|
Eles o ouviram bater nas coisas do corredor com a
|
bengala da Smeltings. Então ele gritou:
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- Chegou outra!- Sr. H. Potter; O Menor Quarto da
|
Casa- Rua dos Alfeneiros 4...
|
Com um grito sufocado tio Válter saltou da cadeira
|
e saiu
|
correndo
|
pelo corredor; Harry logo atrás dele-
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Tio Válter teve que lutar e derrubar Duda no chão para
|
lhe tirar a carta, o que foi dificultado por .Harry
que
|
agarrara
|
o
|
pescoço do tio Válter por trás. Depois. de
|
um minuto confuso de luta, em. que todos levaram
|
varias bengaladas, tio Válter se endireitou,
ofegante..-
|
com a carta de Harry- apertada na mão.
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-Vá para o seu armário, quero dizer, para o seu
|
quarto- chiou para Harry - Duda, saia, saia logo.
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Harry deu voltas e mais voltas no novo quarto.
|
Alguém sabia que ele se mudara do armário e parecia
|
saber que ele não recebera a primeira carta- Isto
|
significava com certeza que ia tentar outra. vez? E
|
desta vez ele tomaria providências para que
desse
certo. Tinha um plano.
|
O despertador consertado tocou às seis horas na
|
manhã seguinte. Harry desligou-o depressa e se vestiu
|
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em silêncio. Não podia acordar os Dursley Desceu as
|
escadas sorrateiro sem acender nenhuma luz.
|
Ia esperar pelo carteiro na esquina da Alfeneiros e
|
receber primero as cartas endereçadas ao numero
|
quatro. Seu coração batia com força quando atravessou
|
sem ruído o corredor escuro até a porta de entrada.
|
- A
|
!
|
AAAARRREE
|
Harry deu um salto no ar - pisara em alguma coisa
|
grande e mole no capacho - uma coisa viva!
|
As luzes se acenderam no primeiro andar e, para seu
|
horror, Harry percebeu que a coisa grande e mole tinha
|
a cara do tio Válter estava dormindo junto à porta de
|
entrada em um saco de dormir para impedir que Harry
|
fizesse exatamente. o que estava
|
tentando fazer. Gritou com Harry quase meia hora e
|
depois lhe disse para ir preparar uma xícara de chá -.
|
Harry foi para a cozinha, arrastando os pés, infeliz,
e
|
quando conseguiu voltar o correio tinha sido entregue,
|
bem no colo de tio Válter. Harry viu três cartas
|
endereçadas em tinta verde.
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- Quero... - começou, mas tio Válter estava rasgando
|
as cartas em pedacinhos bem diante dos seus olhos.
|
Tio Válter não foi trabalhar naquele dia. Ficou em
|
casa e pregou a portinhola para cartas.
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- Entende - explicou à tia Petúnia por entre os lábios
|
cheios pregos, se eles não puderem
|
entregar
|
então
|
terão de desistir.
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- Não tenho muita certeza de que isto vai dar certo,
|
Válter
|
- Ah, a cabeça dessa gente funciona de maneira
|
estranha, Petúnia eles não são como você e eu - disse
|
tio Válter tentando bater um prego com um pedaço de
|
bolo de frutas que tia Petúnia acabara de lhe
trazer.
Na sexta-feira chegaram nada menos de doze cartas
|
para Harry. Como não passavam pela portinhola da
|
correspondência tinham
|
empurradas por baixo da porta, metidas pelos lados e
|
algumas até forçadas pela janelinha do banheiro no
|
térreo. Tio Válter ficou em casa de novo. Depois de
|
queimar todas as apanhou martelo e pregos e fechou
|
com tábuas as frestas das portas da frente e dos
fundos,
|
de. modo que ninguém sair. Cantarolou "Pé ante pé
no
|
campo de tulipas" enquanto trabalhava, e se
assustava
|
com qualquer ruído.
|
No sábado as coisas começam a
|
fugir
|
ao seu controle -.
|
Vinte e quatro cartas acabaram entrando em casa,
|
enroladas e escondidas duas dúzias de ovos que o
|
leiteiro, muito confuso, entregara à tia Petúnia pela
|
janela da sala de estar Enquanto tio Válter dava
|
telefonemas furiosos para o correio e a leiteria
|
tentando encontrar alguém a quem se queixar, tia
|
Petúnia picava as cartas no processador de alimentos .
|
- Mas quem é que quer falar tanto assim com você?
|
- Duda perguntou espantado a Harry -.
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Na manhã do dominngo, tio Válter sentou-se à mesa
|
do café parecendo cansado e um tanto doente, mas
|
feliz.
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- Não tem correio aos domingos - lembrou a todos,
|
contente passando geléia nos jornais-, nada de cartas
|
idiotas hoje...
|
Alguma coisa desceu chiando pela chaminé do
|
fogão enquanto ele falava e bateu com força em sua
|
nuca. No instante seguinte, trinta ou quarenta cartas
|
saíram velozes da lareira como se fossem tiros. Os
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Dursley se abaixaram, mas Harry deu um salto no ar
|
para apanhar uma...
- Fora! Fora!
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Depois que tia Petúnia e Duda tinham corrido para fora
|
protegendo o rosto com os braços, tio Válter bateu a
|
porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para
|
dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no
|
chão.
|
-Já chega - disse tio Válter, tentando falar com
|
calma mas, ao mesmo tempo, arrancando tufos de pêlos
|
dos bigodes.- Quero vocês aqui de volta em cinco
|
minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham
|
apenas algumas roupas nas malas. Não quero
|
discussão!
|
Ele parecia tão perigoso com metade dos bigodes
|
arrancados
|
que ninguém se atreveu a discutir. Dez minutos depois
|
eles tinham
|
retirado as tábuas para passar nas portas e estavam no
|
carro, correndo em direção a estrada. Duda fungava no
|
banco traseiro; o pai tinha lhe dado um tapa na cabeça
|
por atrasá-los tentando empacotar a televisão, o vídeo
e
|
o computador na mochila esportiva.
|
Eles viajaram no carro. E viajaram. Nem tia
Petúnia
se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio
|
Válter fazia uma curva fechada e seguia na direção
|
oposta por algum tempo.
|
- Para despistá-los... despistá-los - resmungava
|
sempre que fazia isso.
|
Não pararam para comer nem beber o dia inteiro.
|
Quando a noite caiu Duda estava uivando. Nunca tivera
|
um dia tão ruim na vida. Estava com fome, sentia falta
|
dos cinco programas de televisão que queria assistir e
|
nunca levara tanto tempo sem explodir um alienígena
|
no computador.
|
Tio Válter parou finalmente à porta de um hotel de
|
aspecto
|
sombrio na periferia de uma grande cidade. Duda e
|
39
|
Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e
|
lençóis úmidos que cheiravam a mofo. Duda roncou
|
mas Harry ficou acordado, sentado no peitoral da
|
janela, espiando as luzes dos carros que passavam
|
enquanto pensava...
|
Comeram cereal velho e torradas com tomates enlatados
frios
|
no café da manhã do dia seguinte. Tinham acabado de
comer
|
quando a proprietária do hotel aproximou-se da mesa.
|
Com licença, mas um dos senhores é o Sr. Harry Potter?
É que eu
|
tenho umas cem dessas na recepção.
|
E ergueu uma carta para eles poderem ler o endereço em
tm ta
|
verde:
|
Sr. H. Potter
|
Quarto 17
|
Railview Hotel
|
Cokewrth
|
Harry tentou pegar a carta mas tio Válter afastou sua
mão. A
|
mulher ficou
olhando.
|
- Eu recebo as cartas - disse tio Válter,
levantando-se depressa
|
e seguindo a mulher que se retirava do salão de
refeições.
|
- Não seria melhor simplesmente irmos para casa,
|
querido? -tia Petúnia sugeriu timidamente horas
depois,
|
mas tio Válter não parecia ouvi-la. Exatamente o que
|
andava procurando ninguém sabia. Ele os levou até o
|
meio de uma floresta, desceu do carro, espiou à volta,
|
sacudiu a cabeça, tornou a embarcar no carro e
|
partiram outra vez. A mesma coisa aconteceu no meio
|
de um campo arado, no meio de uma ponte pênsil e no
|
alto de um edifício garagem.
|
- Papai enlouqueceu, não foi? -Duda perguntou,
cansado, à tia
|
Petúnia no fim daquela tarde. Tio Válter estacionara
no litoral,
|
passara a chave no carro com todos dentro e
desaparecera.
|
Começou a chover. Grandes gotas batiam no teto
do carro. Duda choramingou .
-É segunda-feira -falou à mãe. O Grande Humberto
|
vai se apresentar hoje à noite. Quero estar em algum
|
lugar que tenha televisão.
|
Segunda-feira. Isto lembrou a Harry uma coisa. Se era
|
segunda-feira - e em geral podia-se confiar que Duda
soubesse os
|
dias da semana, por causa da televisão - então o dia
seguinte,
|
terça-feira, era o décimo primeiro aniversário de
Harry.
|
Naturalmente seus aniversários não eram lá muito
divertidos - no
|
ano an terior, os Dursley tinham-lhe dado
|
um
|
cabide e um par de
|
meias velhas do tio Válter. Ainda assim, não se fazia
onze anos
|
todos os dias.
|
Tio Válter voltou sorrindo. Carregava um pacote
comprido e
|
fino e não respondeu à tia Petúnia quando ela
perguntou o que
|
comprara.
|
- Encontrei o lugar perfeito! -falou. -Vamos! Saiam
todos!
|
Fazia muito frio do lado de fora do carro. Tio Válter
apontou para
|
o que parecia ser um grande rochedo no meio do mar.
|
Encarrapitado no alto do rochedo havia o casebre mais
miserável
|
que se pode imaginar. Uma coisa era certa, ali não
havia televisão.
|
- Estão anunciando uma tempestade para hoje! - disse
tio
|
Válter alegre, batendo palmas. - E este senhor teve a
bondade de
|
concordar em nos emprestar seu barco!
|
Um homem desdentado vinha descansadamente em direção a
eles,
|
e apontava com um sorriso muito maldoso para um barco
a remos
|
velho que subia e descia nas águas cinza-grafite lá
embaixo.
|
-Já comprei algumas rações para nós - disse tio Válter
-
|
,portanto, todos a bordo!
|
Fazia muito frio no barco. Salpicos de água gelada do
mar
|
escorriam. pelos pescoços deles e um vento cortante
fustigava seus
|
rostos. Depois do que pareceram horas eles chegaram ao
rochedo,
|
onde tio Válter, escorregando, levou-os ate a casa em
ruínas.
|
O interior era horrível; cheirava a algas marinhas, o
vento
|
assobiava pelas frestas nas paredes de tábuas e
a lareira estava
úmida e vazia. Havia apenas dois quartos.
|
Afinal as rações de Tio Válter eram uma embalagem de
cereal
|
para cada um e quatro bananas. Ele tentou acender a
lareira mas a
|
embalagem de cereal apenas fumegou e carbonizou.
|
-Aquelas cartas viriam a calhar agora, heim? disse ele
|
animado.
|
Estava de muito bom humor. Obviamente achava que
ninguém
|
teria chance de alcançá-lo ali, durante uma
tempestade, para
|
entregar cartas. Harry concordava intimamente, embora
este
|
pensamento não o animasse nem um pouco.
|
Quando a noite caiu, a tempestade prometida desabou ao
redor
|
deles. A espuma das altas ondas chapinhava nas paredes
do
|
casebre e um vento ameaçador sacudia as janelas
imundas. Tia
|
Petúnia encontrou uns cobertores mofados no segundo
quarto e
|
preparou uma cama para Duda ao sofá comido pelas
traças. Ela e
|
tio Válter foram se deitar na cama cheia de calombos
ao lado e
|
deixaram Harry. procurar a parte mais macia do
assoalho e se
|
enrolar no cobertor mais rasgado e ralo.
|
A tempestade rugia cada vez com maior ferocidade à
medida
|
que a noite avançava. Harry não conseguia dormir.
Tremia e
|
revirava, tentando encontrar uma posição
confortável seu
estômago roncando de fome. Os roncos de Duda eram
abafados
|
pela trovoada que começou por volta da meia-noite. O
mostrador
|
luminoso do relógio de Duda, que estava pendurado para
fora do
|
sofá em seu pulso gordo, informava a Harry que dentro
de dez
|
minutos ele completaria onze anos. Deitado, ele viu
seu
|
aniversário se aproximar, perguntando-se se. os
Dursley se
|
lembrariam, perguntando-se onde estaria o remetente
das cartas
|
agora.
|
Faltavam cinco minutos. Harry ouviu alguma coisa
estalar lá
|
fora. Desejou que o teto não caísse, embora quem sabe
|
conseguisse se esquentar se isto acontecesse. Quatro
minutos.
|
Talvez a casa na rua dos Alfeneiros estivesse tão
abarrotada de
|
cartas que quando voltassem ele pudesse surrupiar uma.
|
Três minutos. Seria o mar batendo tão forte na
rocha? E faltavam dois minutos que barulho esquisito
|
de trituração era aquela? Será que a rocha estava se
|
desintegrando no mar?
|
Mais um minuto e ele completaria onze anos. Trinta
|
segundos...vinte... dez - nove - talvez acordasse
Duda,
|
só para aborrecê-lo - três - dois - um...
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O casebre todo estremeceu e Harry sentou-se reto,
arregalando
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os olhos para a porta. Havia alguém lá fora, que batia
querendo
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entrar.
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