sábado, 8 de setembro de 2012

Harry Potter ...E a Pedra Filosofal( Cap I )


- Capítulo Um -
O menino que sobreviveu
O Sr. e a Sra. Dursley; da rua dos Alfeneiros, n.º. 4, se
orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem,.
obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se
metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque
simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem.
O Sr. Dursley era Diretor de uma firma chamada Grunnings,
fazia perfurações. Era um homem alto e corpulento quase sem
pescoço, embora tivesse enormes bigodes. A Sra. Dursley era e loura
e tinha um pescoço quase duas vezes mais comprido que o normal o
que era muito útil porque ela passava g rande parte do tempo
espichando-o por cima da cerca do jardim para espiar os vizinhos. Os
Dursley tinham um filhinho chamado Dudley; o Duda, e em sua
opinião não havia garoto melhor em nenhum lugar do mundo.
Os Dursley tinham tudo que queriam, mas tinham também um
segredo, e seu maior receio era que alguém o descobrisse. Achavam
que não iriam agüentar se alguém descobrisse a existência dos Potter.
A Sra. Potter era irmã da Sra. Dursley; mas não se viam muitos anos;
na realidade a Sra. Dursley fingia que não tinha irmã, porque esta e o
marido imprestável eram o que havia de menos parecido possível com
os Dursley; Eles estremeciam só de pensar o que os vizinhos iriam
dizer se os Potter. aparecessem na rua. Os Dursley sabiam que os
Potter tinham um filhinho, também mas nunca o  tinham visto. O
garoto era mais uma razão para manter os Potter a distância; eles não
queriam que Duda se misturasse com uma criança daquelas.
Quando o Sr. e a Sra. Dursley acordaram na terça-feira

monótona e cinzenta em que a nossa história começa não havia nada
no céu nublado lá fora sugerindo as coisas estranhas e misteriosas que
não tardariam. a acontecer por todo o pais. O Sr. Dursley cantarolava
ao escolher a. gravata mais sem graça do mundo para ir trabalhar e a
Sra. Dursley fofocava alegremente enquanto lutava para encaixar um
Duda aos berros na cadeirinha alta.
Nenhum deles reparou em uma coruja parda que passou,
batendo as asas, pela janela.
Às oito e meia, o Sr. Dursley apanhou a pasta, deu um
beijinho no rosto da Sra. Dursley e tentou dar um beijo de despedida 
em Duda mas não conseguiu, porque na hora Duda estava tendo um
acesso de raiva e atirava o cereal nas paredes.
-Pestinha - disse rindo contrafeito o Sr. Dursley ao sair de
casa. Entrou no carro e deu marcha à ré para sair do estacionamento
do número quatro.
Foi na esquina da rua que ele notou o primeiro indício de que
algo estranho ocorria um gato lia um mapa. Por um instante o Sr.
Dursley não percebeu o que vira -em seguida virou rapidamente a
cabeça para dar uma segunda olhada. Havia um gato de listras
amarelas sentado na esquina da rua dos Alfeneiros, mas não havia
nenhum mapa à vista. Em que estaria pensando naquela hora? Devia
ter sido um efeito da luz. Ele piscou e arregalou os olhos para o gato.
O gato o encarou. Enquanto virava a esquina e subia a rua, espiou o
gato pelo espelho retrovisor. Ele agora estava lendo a placa que dizia
rua dos Alfeneiros - não, estava olhando a placa: gatos não podiam
ler mapas nem placas. O Dr. Dursley sacudiu a cabeça e tirou o gato
do pensamento. Durante o caminho para a cidade ele não pensou em.
mais nada exceto no grande pedido de brocas que tinha esperanças de
receber naquele dia
Mas ao sair da cidade, as brocas foram varridas de sua cabeça
por outra coisa. Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, não
pode deixar de notar que havia uma quantidade de gente
estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com. capas largas. O
Sr. Dursley não tolerava gente que andava com roupas ridículas - os
trapos que se viam nos jovens! Imaginou que aquilo fosse. uma nova
moda idiota. Tamborilou os dedos no volante e seu olhar recaiu em
um grupinho de excêntricos parados bem perto dele. Cochichavam
excitados. O Sr. Dursley se irritou ao ver que alguns deles nem eram
jovens; ora, aquele homem devia ser mais velho do que ele, e usava
urna capa verde-esmeralda! Que petulância! Mas então ocorreu ao
Sr:; Dursley que se tratava prova de alguma promoção boba - essas
pessoas estavam obviamente arrecadando alguma coisa... é, devia ser
isto! O tráfego avançou e alguns minutos depois o Sr. Dursley chegou
ao estacionamento da Grunnings, o pensamento de volta às brocas.
O Sr. Dursley sempre sentava de costas para a parede em seu
escritório no nono andar. Se não o fizesse, talvez tivesse achado mais
difícil se concentrar em brocas aquela manhã. Ele não viu as corujas
que voavam velozes em plena luz do dia, embora as pessoas na rua as
vissem; elas apontavam e se espantavam enquanto de coruja passava
no alto. A maioria jamais vira uma mesmo à noite. O Sr:; Dursley,
porém, teve uma manhã normal sem corujas. Gritou com cinco
pessoas diferentes. Deu vários telefonemas importantes e gritou mais
um pouco. Estava de excelente humor até a hora do almoço, quando
pensou em esticar as pemas e atravessar a rua para comprar um
pãozinho doce na padaria defronte.
Esquecera completamente as pessoas de capas até passar por
um grupo delas próximo à padaria. Olhou-as com raiva ao passar.
Não sabia o porquê, mas elas o deixavam nervoso. Essas
cochichavam também, mas ele não viu nenhuma latinha de coleta. Foi
ao passar por elas na volta, levando uma grande rosca açucarada que
entreouviu algumas palavras do que diziam.
-... Os Potter, é verdade, foi o que ouvi...
- ...é, o filho deles, Harry...
O Sr. Dursley parou de repente. O medo invadiu-o. Virou a
alguma coisa, mas pensou melhor.
Atravessou a rua depressa, correu para o escritório, disse
rispidamente à secretária que não o incomodasse, agarrou o
telefone e quase terminara de discar o número de casa quando
mudou de idéia. Pôs o fone no gancho e alisou os bigodes
pensando... não, estava agindo como um idiota. Potter não era um
nome tão fora do comum assim. Tinha certeza de que havia muita
gente chamada Potter com um filho chamado Harry. Pensando
bem nem sequer tinha certeza de que o sobrinho tivesse o nome de
Harry. Jamais viu o menino. Talvez fosse Ernesto. Ou Eduardo.
Não tinta sentido preocupar a Sra. Dursley, ela sempre ficava tão
perturbada à simples menção da irmã. Não a culpava - se ele
tivesse uma irmã como aquela.. mas mesmo assim aquelas pessoas
de capas.
Achou bem mais difícil se concentrar nas brocas aquela tarde e
quando deixou o edifício as cinco horas, continuava tão preocupado
que deu um encontrão em alguém parado ali à porta.
- Desculpe - murmurou, quando o velhinho cambaleou e quase
caiu. Levou alguns segundos até o Sr. Dursley perceber que o homem
estava usando uma capa roxa. Não parecia nada aborrecido por ter
sido quase jogado ao chão. Ao contrario, seu rosto se abriu em um
largo sorriso e ele disse numa voz esganiçada que fez os passantes
olharem:
- Não precisa pedir desculpas, caro senhor, porque nada
poderia me aborrecer hoje! Alegre-se! porque o Você-Sabe-Quem
finalmente foi-se embora! Até trouxas como o senhor deviam estar
comemorando um dia. tão feliz!
E o velho abraçou o Sr. Dursley pela cintura e se afastou.
O St Dursley ficou pregado no ch ão. Fora abraçado por um
completo estranho. Eu também achava que fora chamado de trouxa, o
que quer que isso quisesse dizer. Estava abalado. Correu para o carro
e partiu para casa, esperando que estivesse imaginando coisas, o que
nunca esperara que fizesse, porque não aprovava a imaginação.
Quando entrou no estacionamento do numero quatro, a
primeira coisa que viu - e isso não melhorou o seu estado de espírito
- foi o gato listrado que notara aquela manhã. Agora ele estava
sentado no muro do jardim. Tinha certeza de que era o mesmo; as
marcas em volta. dos olhos eram as mesmas.
- Chispa! - disse o Sr. Dursley em voz alta.
O gato não se mexeu. Apenas lançou-lhe um olhar severo.
Será que isto era um comportamento normal para um gato, pensou o
Sr Dursley. Continuava decidido a então não comentar nada com a
esposa.
A Sra. Dursley tivera um. dia normal e agradável. Contou
lhe
-
durante o jantar os problemas da senhora do lado com a filha e ainda
que Duda aprendera uma palavra nova (Nunca). O Sr. Dursley tentou
agir normalmente. Depois que Duda foi se deitar, ele chegou à sala
em tempo de ouvir o último noticiário noturno.
"E, por ultimo, os observadores de pássaros em toda parte
registraram que as corujas do país se comportaram de forma muito
estranha hoje. Embora elas normalmente cacem a noite e raramente
apareçam à luz do dia, centenas desses pássaros foram vistos hoje
voando em todas as direções desde o alvorecer. Os especialistas não
sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o seu padrão
de sono." O locutor se permitiu um sorriso. "Muito misterioso. E
agora, com Jorge Mendes, o nosso boletim meteorológico. Vai haver
mais tempestades de corujas hoje à noite, Jorge?"
"Bom, Eduardo", disse o meteorologista, não sei lhe dizer, mas não
foram só as corujas que se comportaram de modo estranho hoje,
Ouvintes de todo o pais têm telefonado para reclamar que em vez do
aguaceiro que prometi para ontem, eles tem tido chuvas de estrelas!
Talvez alguém ande festejando a noite das fogueiras uma semana
mais cedo este ano! Mas posso prometer para uma noite chuvosa".
O Sr. Dursley ficou paralisado na poltrona. Estrelas
cadentes em todo o pais? Corujas voando durante o dia? Gente
misteriosa capas por todo lado? E um cochicho, um cochicho a
respeito dos Potter...
A Sra. Dursley entrou na sala trazendo duas xícaras de chá .
Não adiantava. Teria que lhe dizer alguma coisa. Pigarreou
nervoso.
- Hum, hum, Petúnia, querida, você não tem tido notícias de
sua irmã ultimamente?
Conforme esperava, a Sra. Dursley pareceu chocada e
aborrecida. Afinal, normalmente fingiam que ela não tinha irmã.
- Não, respondeu ela, seca. Por quê?
- Uma notícia engraçada - murmurou o Sr Dursley -
Corujas... estrelas cadentes e vi uma porção de gente de aparência

estranha na cidade hoje...
- E dai? - cortou a Sra. Dursley.
- Bem, pensei, talvez, tivesse alguma ligação com... sabe... o
pessoal dela.
A Sra. Dursley bebericou o chã com os lábios contraídos. O
Sr. Dursley ficou em dúvida se teria coragem de lhe contar que ouvira
o nome "Potter". Decidiu que não. Em vez disso, falou com a voz
mais displicente que pode:
-O filho deles, teria mais ou menos a idade do Duda agora,
não?
- Suponho que sim respondeu a: Sra. Dursley ainda seca.
- Como é mesmo o nome dele? Ernesto, não é?
-Harry. Um nome feio e vulgar, se quer saber minha opinião.
- Ah, é - disse o Sr. Dursley; sentindo um aperto horrível no
coração. - E, concordo com você.
Não disse mais nenhuma palavra sobre o assunto a caminho
do quarto onde foram se deitar. Enquanto a Sra. Dursley estava no
banheiro, o Sr. Dursley foi devagarinho até a janela e espiou o jardim
da casa. O gato continuava lá. Observava o começo da rua dos
Alfeneiros como se esperasse alguma coisa.
Estaria imaginan do coisas. Será que tud o isto teria ligação
com os Potter? Se tinha... se transpirasse que eram aparentados como
um casal de... bem ele achava que não agüentaria.
Os Dursley se deitaram. A. Sra. Dursley, adormeceu logo mas
o Sr. Dursley continuou acordado pensando no que acontecera. Seu
último consolo antes de adormecer foi pensar que mesmo que os
Potter estivessem. envolvidos, não havia razão para se aproximarem
dele e da Sra. Dursley. Os Potter sabiam muito bem o que pensavam
deles e de gente de sua laia... Não via como ele e Petúnia poderiam. se
envolver com nada que estivesse acontecendo. O Sr. Dursley bocejou
e se virou. Isso não poderia afetá-los...
Como estava enganado.
O Sr. Dursley talvez estivesse mergulhando em um sono
inquieto, mas o gato no muro lá fora não mostrava sinais de sono.
Continuava sentado imóvel como uma estátua, os olhos fixos na
esquina mais distante da rua dos Alfeneiros. E nem sequer
estremeceu quando uma porta de carro bateu na rua seguinte, nem
desaparecera Ao invés dele, viu-se sorrindo para uma mulher de
aspecto severo que usava óculos de lentes quadradas exatamente
do formato das marcas que o gato tinha em volta dos olhos. Ela,
também, usava uma capa esmeralda.. Trazia os cabelos negros
presos num coque apertado. E parecia decididamente irritada.
- Como soube que era eu? - perguntou.
- Minha cara professora, nunca vi um gato se sentar tão duro.
- O senhor estaria duro se tivesse passado o dia todo sentado
em um muro de pedra - respondeu. a Profª. Minerva.
- O dia todo? Quando podia estar comemorando? Devo ter
passado por mais de dez festas e banquetes a. caminho daqui.
A professora fungou aborrecida.
- Ah, sim, vi que todos estão comemorando - disse impa
ciente. - Era de esperar que fossem um pouco mais cautelosos, mas

não, até os trouxas notaram. que alguma coisa estava acontecendo.
Deu no telejornal. - Ela indicou com a cabeça a sala às escuras dos
Dursley.- Eu ouvi... bandos de corujas... estrelas cadentes... Ora, eles
não são completamente idiotas. Não podiam deixar de notar alguma
coisa. Estrelas cadentes em kent, aposto que foi coisa de Dédalo
Diggle. Ele nunca teve muito juízo.
- Você não pode culpá-los - ponderou Dumbledore
educadamente. - Temos tido muito pouco o. que comemorar nos
últimos onze anos.
- Sei disso - retrucou a professora mal-humorada. - Mas não é
razão para perdermos a cabeça.. As pessoas estão sendo
completamente descuidadas, saem as ruas em plena luz do dia, sem
nem ao menos vestir roupa de trouxa, e espalham boatos.
De esguelha, lançou um olhar atento a Dumbledore, como se
esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas ele continuou calado,
por isso ela recomeçou:
- Ia ser uma graça se, no próprio dia em que Você-Sabe-Quem
parece ter finalmente ido embora, os trouxas descobrissem a nossa
existência. Suponho que ele realmente tenha ido embora, não é,
Dumbledore?
- Parece que não há dúvida. Ternos muito o que agradecer
Aceita um sorvete de limão?
- Um o quê?
- Um sorvete de limão E uma espécie de doce dos trouxas de
que sempre gostei muito.
-Não, obrigada - disse a Profa Minerva com frieza, como se
não achasse que o momento pedia sorveres de limão. - Mesmo que
Você-Sabe-Quem tenha ido embora.
-
Minha cara professora, com certeza uma pessoa sensata
como a senhora pode chamá-lo pelo nome. Toda essa bobagem de
Você-Sabe-Quem, há onze anos venho tentando convencer as
pessoas a chama-lo pelo nome que recebeu: Voldemort - A
professora franziu a cara, mas Dumbledore, que estava separando
dois sorvetes de limão, pareceu não reparar - Tudo fica tão confuso
quando todos não param de dizer "Você-Sabe-Quem".
Nunca vi nenhuma razão para ter medo de dizer o nome de
Voldemort
- Sei que não vê - disse a professora parecend o meio
exasperada, meio admirada. Mas você é diferente.. Todo o mundo
sabe é o único de quem Você-Sabe... ah, está bem, de quem
Voldemort tem medo.
- Isto é um elogio - disse Dumbledore calmamente. -
Voldemort tinha poderes que nunca tive.
- Só porque você. é muito... bem... nobre para usá-los.
- É uma sorte estar escuro. Nunca mais corei assim desde que
Madame Gonfrei me disse que gostava dos meus abafadores de
orelhas novos.
A Profª Minerva lançou um olhar severo a Dumbledore e
disse:
- As corujas não são nada comparadas aos boatos que correm
que todos estão dizendo? Por que ele foi embora? Que foi que
finalmente o deteve?
Aparentemente a Profa. Minerva chegara ao ponto que
estava ansiosa para discutir, a verdadeira razão pela qual estivera
esperando o dia todo em cima de um muro frio e duro, porque nem
como gato nem como mulher ela fixara antes um olhar tão
penetrante em Dumbledore como agora. Era. óbvio que seja o que
fosse que "todos" estavam dizendo, ela não iria acreditar até que
Dumbledore confimasse ser verdade - Dumbledore, porém, estava.
escolhendo mais um sorvete de limão e não respondeu.
- O que estão dizendo - continuou ela - é que a noite passada
Valdemort apareceu em Godric's Hollow. Foi procurar os Potter. O
boato é que Lilian e Tiago Potter estão... estão.mortos.
Dumbledore fez que sim com a cabeça. A Profa. Minerva
perdeu o fôlego.
- Lilian e Tiago... Não posso acreditar... Não quero acreditar...
Ah, Alvo.
Dumbledore estendeu a mão e deu-lhe um tapinha no ombro.
- Eu sei... eu sei... - disse deprimido.
A voz da Profa. Minerva tremeu ao prosseguir:
- E não é só isso. estão dizendo que ele tentou matar o filho
dos Potter, Harry. Mas... não conseguiu. Não conseguiu matar o
garotinho. Ninguém sabe o porquê nem o como, mas estão dizendo
que na hora que não pôde matar Harry Potter, por alguma razão, o
poder de Voldemort desapareceu e é por isso que ele foi embora.
Dumbledore concordou coma cabeça sério.
-.É verdade? - gaguejou a professora. - Depois de tudo o que
ele fez... todas as pessoas que matou... não conseguiu matar um
garotinho? É simplesmente espantoso... de tudo que poderia detê-lo...
mas, por Deus, como foi que Harry sobreviveu?
- Só podemos imaginar - disse Dumbledore. - Talvez nunca
cheguemos a saber.
A Profa. Minerva pegou um lenço de renda e secou com
delicadeza os olhos por baixo das lentes dos óculos. Dumbledore
deu uma grande fungada ao mesmo tempo que tirava o relógio de
ouro do bolso e o examinava. Era um relógio muito estranho.
Tinha doze ponteiros mas nenhum número; em vez deles pequenos
planetas giravam à volta. Mas, devia fazer sentido para
Dumbledore, porque ele o repôs no bolso e disse:
-Hagrid está atrasado. A propósito, foi ele que lhe disse que eu
estaria aqui, suponho.
- Foi. E suponho que você não vá me dizer porque está aqu i e
não em. outro lugar.
-Vim trazer Harry para tio e a tia. Eles são a única família que
lhe resta.
-Você não quer dizer, você não pode estar se referindo às
pessoas que moram aqui? - exclamou a Profa Minerva, pulando de pé
e apontando para o número quatro - Dumbledore você não pode.
Estive observando a família o dia todo. Você não poderia encontrar
duas pessoas menos parecidas conosco. E têm um filho, vi-o dando
chutes na mãe até a rua, berrando porque queria balas. Harry Potter
vir morar aqui!
-É o melhor lugar para ele. disse Dumbledore com firmeza. -
os tios pod erão lhe explicar tudo quando ele for mais velho, escrevilhes
uma carta.
-Uma carta? - repetiu a professora com a voz fraca,
sentando-se novamente no muro. -Francamente Dumbledore, você
acha que pode explicar tudo isso em uma carta? Essas pessoas
jamais vão entendê-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me
surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o
dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as
crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!
-Exatamente - disse Dumbledore, olhando muito sério por
cima dos óculos de meia-lua. - Isto seria o bastante para ;virar a
cabeça de qualquer menino. Famoso antes mesmo de saber andar
Famoso por alguma coisa que ele nem vai se lembrar! Você é que ele
estará muito melhor se crescer longe de tudo isso tenha capacidade de
compreender?
A professora abriu a boca, mudou de idéia, engoliu em seco e
então disse:
- É, é, você esta certo, é claro. Mas como é que o garoto vai
chegar aqui, Dumbledore? - Ela olhou para a capa dele de repente
como se lhe ocorresse que talvez escondesse Harry ali.
- Hagrid vai trazê-lo .
- Você acha que é sensato confiar a Hagrid uma tarefa
importante como essa?
-Eu confiaria a Hagrid minha vida - respondeu Dumbledore,
-Não estou dizendo que ele irão tenha o coração no lugar -
concedeu a professora de má vontade -, mas você não pode fingir que
ele é cuidadoso. Que tem uma tendência a... que foi isso?
Um ronco discreto quebrara o silêncio da rua. Foi aumentando
cada vez mais enquanto eles olhavam para cima e para baixo da rua à
procura de um sinal de farol de carro; o ronco se transformou num
trovão quando os dois olharam para o céu - e uma enorme motocicleta
caiu do ar e parou na rua diante deles.
Se a motocicleta era enorme, não era nada comparada ao
homem que a montava de lado. Ele era quase duas vezes mais alto do
que um homem normal e pelo menos cinco vezes mais largo. Parecia
simp lesmente grande demais para existir e tão selvagem-
emaranhados de barba e cabelos negros longos e grossos escondiam a
maior parte do seu rosto, as mãos tinham o tamanho de uma lata de
lixo e os pés calçados com botas de couro pareciam filhotes de
golfinhos. Em seus braços imensos e musculosos ele segurava um
embrulho de cobertores.
- Hagrid - ex clamou Dumbledore, parecendo aliviado -
Finalmente. E onde foi que arranjou a moto?
- Pedi emprestada, Prof. Dumbledore - respondeu o gigante,
desmontando cuidadosamente da moto ao falar - O jovem Sirius me
emprestou. Trouxe ele, professor.
- Não teve nenhum problema?
- Não, senhor A casa ficou quase destruída, mas consegui tirálo
inteiro antes que os trouxas invadissem o lugar. Ele dormiu quando
estivemos sobrevoando Bristol.
Dumbledore e a Profª. Minerva curvaram-se para o embrulho
de cobertores. Dentro, apenas visível, havia um menino, que dormia a
sono solto. Sob uma mecha de cabelos muito negros caída sobre a
testa eles viram corte curioso, tinha a forma de um raio.
- Foi aí que? - sussurrou a professora.
- Fo i - confirmou Dumbledore.- Ficará com a cicatriz para
sempre.
- Será que você não poderia dar um jeito, Dumbledore?
- Mesmo que pudesse, eu não o faria. As cicatrizes podem vir
a ser úteis. Tenho uma acima do joelho esquerdo que é um mapa
perfeito do metrô de Londres. Bem, me dê ele aqui, Hagrid, é melhor
acabarmos logo com isso.
Dumbledore recebeu Harry nos braços e virou-se para a
casa dos Dursley.
- Será que eu podia...podia me despedir dele, professor? -
perguntou Hagrid.
Ele curvou a enorme cabeça descabelada para Harry e lhe deu
o que deve ter sido um beijo muito áspero e peludo. Depois, sem
aviso, Hagrid soltou um uivo como o de um cachorro ferido.
- Psiut - sibilou a Profª. Minerva -Você vai acordar os trouxas!
-Desculpe - soluçou Hagrid, puxando um enorme lenço sujo e
escondendo a cara nele.- Mas nã-nã-não consigo suportar, Lílian e
Tiago mortos, e o coitadinho do Harry ter de viver com os trouxas...
-
É é, é muito triste, mas controle-se, Hagrid, ou vão nos
descobrir - sussurrou a professora, dando uma palmadinha
desajeita no braço de Hagrid enquanto Dumbledore saltava a
pedra
mureta de
e se dirigia à porta da frente. Depositou Harry
devagarinho no batente, tirou uma carta da capa, meteu-a entre os
cobertores do menino e em seguida, voltou para a companhia dos
dois. Durante um minuto inteiro os três ficaram parados olhando para
o embrulhinho; os ombros de Hagrid sacudiram, os olhos da Profa.
Minerva piscaram loucamente e a luz cintilante que sempre brilhava
nos olhos de Dumbledore parecia ter-se extinguido.
- Bem - disse Dumbledore finalmente -, acabou-se. Não temos
mais nada a fazer aqui. já podemos nos reunir aos outros para
comemorar.
- É - disse Hagrid com a voz muito abafada. - Vou devolver a
moto de Sirius. Boa noite, Profa. Minerva, Professor Dumbledore...
Enxugando os olhos na manga da jaqueta, Hagrid montou na
moto e acionou o motor com um pontapé; com um rugido ela
levantou vôo e desapareceu na noite.
-
Nos veremos em breve, espero, Profa. Minerva - falou
Dumbledore, com um aceno da cabeça. A Profa. Minerva assou o
nariz em resposta.
Dumbledore se virou e desceu a rua. Na esquina parou e poxou o
"apagueiro". Deu um clique e doze esferas de luz voltaram
aos lampiões de modo que a rua dos Alfeneiros de repente iluminouse
com uma claridade laranja e ele divisou o gato listrado se
esquivando pela outra ponta da rua. Mal dava para enxergar o
embrulhinho de cobertores no batente do número quatro.
- Boa sorte, Harry - murmurou ele, Girou nos calcanhares e,
com um movimento da capa, desapareceu.
Uma brisa arrepiou as cercas bem cuidadas da rua dos
Alfeneiros, silenciosas e quietas sob o negror do céu, o último lugar
do mundo em. que alguém esperaria que acontecessem coisas
espantosas. Harry Potter virou-se dentro dos cobertores sem acordar
Sua mãozinha agarrou a carta ao lado mas ele continuou a dormir,
sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que
iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao
abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora,
nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões
do primo Duda ele não podia saber que, neste mesmo instante, havia
pessoas se reunindo em segredo em todo o pais que erguiam os copos
e diziam com vozes abafadas.
- A HarryPotter: o menino que sobreviveu.

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