sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Harry Potter E a Pedra Filosofal ( Cap II )


CAPÍTULO DOIS
-
O vidro que sumiu
Quase dez anos haviam se passado desde o dia em
que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no
batente da porta, mas a rua dos Alfeneiros não mudara
praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins
cuidados e iluminava o número quatro de bronze à
porta de entrada dos Dursley; e penetrava sorrateiro a
sala de estar, que continuava quase igual ao que fora na
noite em o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as
corujas. Somente as fotografias sobre o console da
lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos
antes havia uma porção de fotografias de uma coisa
que parecia uma grande bola de brincar na praia,
usando diferentes chapéus coloridos - mas Duda
Dursley não era mais bebê; e agora as fotografias
mostravam um menino grande e louro na primeira
bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o
computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da
mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que
havia, outro menino na casa.
No entanto Harry Potter continuava lá, no momento
adormecido, mas não por muito tempo. Sua tia Petúnia


acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro

ruído do dia.
- Acorde! Levante-te! Agora!
Harry acordou assustado. A tia bateu à porta outra
vez.
- Acorde! - gritou Harry ouviu-a caminhar em
direçâo à cozinha e em seguida uma frigideira bater no
fogão. Virou-se de costa e tentou se lembrar do sonho
em que estava. Era um sonho
gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha
sensação que já vira esse sonho antes.
A tia voltara a porta.
-Você já se levantou? - perguntou.
- Quase - respondeu Harry.
- Bem, ande depressa, quero que você tome conta do
bacon. E não se atreva a deixá-lo queimar Quero tudo
perfeito no armário no aniversário de Duda.
Harry gemeu.
- Que foi que você disse? - perguntou a tia com
rispidez.
- Nada, nada...
O aniversário de Duda - como podia ter esquecido?
Harry levantou-se devagar e começou a procurar as
meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de
retirar uma aranha de um pé, calçou-as. Harry estava
acostumado com aranhas, porque o armário sob a
escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.
Já. vestido saiu para o corredor que levava à
cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os
presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda
ganhara o novo computador que queria, para não falar
na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o
quê,. exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida
era um mistério para Harry, porque Duda era muito
gordo e detestava fazer exercícios - a não ser, é claro,
que envolvessem bater em alguém. O saco de pancadas
preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda
conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito
rápido.
Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas
Harry sempre fora pequeno e muito magro para a
idade. Parecia ainda menor e mais magro do que
realmente era porque só lhe davam para vestir as
roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior
do que ele. Harry tinha um rosto magro, joelhos
ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes. Usava
óculos redondos, remendados com fita adesiva, por
causa das muitas vezes que Duda socara no nariz. A
única coisa que Harry gostava em sua aparência era
uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um
raio. Existia desde que se entendia por gente e a
primeira pergunta que se lembrava de ter feito à tia
Petúnia era como a arranjara.
-No desastre de carro em que seus pais morreram -
respondera ela. - E não faça perguntas.
Não faça perguntas - esta era a primeira regra para
levar uma vida tranqüila como os Dursley.
Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava
virando o bacon.
- Penteie o cabelo - mandou, à guisa de bom-dia.
Mais ou menos uma vez por semana, tio Válter
espiava por cima do jornal e gritava que Harry,
precisava cortar os cabelos.
Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos
meninos de sua classe somados, mas não fazia
diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele
jeito - para todo lado.
Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda
chegou à cozinha com a mãe
.
Duda se parecia muito
com o tio Valter. Tinha um rosto grande e rosado,
pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e
cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça
enorme e densa. Tia Petúnia dizia com freqüência que
Duda parecia um anjinho - Harry dizia com freqüência
que Duda parecia . um porco de peruca.
Harry pôs os pratos de ovos com bacon na mesa, o
que foi porque não havia muito espaço. Entrementes,
Tia Duda contava
os presentes. Ficou desapontado.
Trinta e seis - disse, erguendo os olhos para o
pai e a mãe. a - Dois a menos do que no ano
passado.
-Querido, você não contou o presente de tia Cuida,
esta aqui grandão do papai e da mamãe, esta vendo?
-Está bem, então são trinta e sete - respondeu Duda
ficando Harry, percebendo que Duda estava preparando
acesso de raiva começou a engolir seu bacon o mais;
depressa possível caso o primo virasse a mesa.
Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo,
porque na ora disse:
- E vamos comprar mais dois presentes para você
quando hoje. Que tal fofinho? Mais dois presentes Esta
bem assim?
Duda pensou um instante. Pareceu um esforço
enorme.Finalmente responde hesitante:
-Então vou ficar com trinta... trinta...
-Trinta e nove, anjinho - disse tia Petunia.
- Ah. - Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote
mais próximo. - Então, está bem.
Tio Válter deu uma risadinha.
- O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho
ao pai. Ë isso ai, garoto! - E arrepiou os cabelos de
Duda com os dedos.
Naquele instante o telefone tocou e tia Petúnia fui
atendê-lo, enquanto Harry e tio Valter assistiam Duda
desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmara de filmar,
um aeromodelo com controle remoto dezesseis jogos
de computador e um gravador de videos. Estava
rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando
tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo
tempo zangada e preocupada.
- Más noticias, Válter a Sra. Figg fraturou a perna.
Não pode ficar com ele.- E indicou Harry com a
cabeça.
Duda boquiabriu-se de horror mas o coração de
Harry deu um salto. Todo ano, no aniversário de Duda,
os pais dele o levavam para passar o dia com um
amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no
cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg,
uma velha maluca que morava ali perto. Harry
detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a
Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos
que já tivera.
- E agora? - perguntou tia Petúnia, olhando furiosa
para Harry como se ele tivesse planejado tudo Harry
sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a
perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar
um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu
Patinhas e o Pompom outra vez.
-Poderíamos ligar para a Cuida - sugeriu tio Válter.
- Não diga bobagem, Valter, ela detesta o menino.
Com freqüência, os Dursley falavam de Harry
assim, como se ele não estivesse presente - ou melhor,
como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que
não conseguisse entendê-los, como uma lesma.
- E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela,
Ivone?
- Está passando férias em Majorca - respondeu
Petúnia, com rispidez.
Vocês podiam me deixar aqui - arriscou Harry
esperançoso (ele poderia assistw ao que quisesse na
televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha
no computador de Duda).
Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.
E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? -
rosnou.
- Não vou explodir a casa - prometeu Harry, mas os
tios não estavam mais escutando.
- Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico - disse tia
Petúnia lentamente,e deixá-lo no carro.
-O carro é novo Não vou deixá-lo sentado no carro
sozinho. Duda começou a chorar alto. Na realidade não
estava chorando fazia anos que não chorava de
verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e
gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.
- Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai
deixar ele estragar o seu dia! - exclamou abraçando-o.
-Não... Quero...que...ele...vá! - Duda berrou entre
grandes soluços fingidos - Ele sempre estraga tudo! - E
lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.
Naquele instante a campainha tocou.
-Ah, meu Deus, são eles chegando! - disse tia
Petunia nervosa um minuto depois, o melhor amigo de
Duda, Pedro entrou acompanhado da mãe. Pedro era
um menino magricela, com cara de rato. Em geral era
quem segurava para trás os garotos enquanto Duda
batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que
estava chorando.
Meia hora depois, Harry, que não conseguia
acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro
do carro dos Dursley, com Pedro e Duda. a caminho do
jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a
tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele,
mas antes de saírem, tio Válter puxara Harry para o
lado.


-Estou lhe avisando - disse, aproximando a cara

grande e vermelha de Harry - Estou-lhe avisando,
moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai
ficar preso naquele armário até o Natal .
-Não vou fazer nada - disse Harry - juro...
Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca
acreditava.
O problema era que sempre aconteciam coisas
estranhas à volta de Harry e simplesmente não
adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa.
Uma vez tia Petunia, cansada de ver Harry voltar do
barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma
tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que
o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela
deixou, para esconder aquela cicatriz horrorosa. Duda
morrera de rir de Harry, que passou a noite acordado
imaginando o que seria a escola no dia seguinte, onde
já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos
emendados com fita adesiva. Na manha seguinte,
porém, quando se levantou os cabelos estavam
exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los.
Tinham-no deixado preso uma semana no armário por
causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que
não saberia explicar como é que os cabelos tinham
crescido tão depressa.
Outra vez, tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um
macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de
laranja). Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele,
tanto menor o macacão ficava, até que finalmente
parecia feito para um fantochinho de dedo, e com
certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu
que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu
grande alivio, não foi castigado.
Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca
quando o encontraram no telhado da cozinha da escola.
A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre,
e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele
apareceu sentado na chaminé. Os Dursley receberam
uma carta muito zangada da diretora de Harry,
contando que Harry andara escalando os prédios da
escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou
para tio Válter através da porta trancada do armário)
fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta
da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo
apanhado na hora em que saltou.
Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar
em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em
outro lugar que não fosse a escola, o armário, ou a sala
com cheiro de repolho da Sra Figg.
Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia
Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas
no. trabalho, de Harry do conselho, de Harry, do banco
e Harry eram seus dois assuntos preferidos. Esta manhã
eram as motocicletas.
-...roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros.-
disse, quando uma moto emparelhou com eles.
- Tive um sonho com uma motocicleta falou
Harry, lembrando-se de repente - Ela voava
Tio Válter quase bateu no carro da frente Virou-se
para trás e gritou com Harry; seu rosto parecendo uma
beterraba gigante e bigoduda:
- MOTOCICLETAS NÃO VOAM!
Duda e Pedro deram risadinhas.
- Sei que não voam - respondeu Harry - Foi
só um sonho.
Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia
uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as
suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam
o que não deviam, não interessava se. era sonho ou
desenho animado - pareciam pensar que ele poderia
arranjar idéias perigosas.
Era um sábado muito ensolarado e o zôo estava
cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes
sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e,
então, porque a mulher sorridente na carrocinha
perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem
afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé
barato de limão. Não era ruim, Harry pensou,
lambendo-o enquanto observavam um gorila que
coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto
pelos cabelos que não eram louros.
Harry passou a melhor manhã que já tivera em
muito tempo. Cuidou de andar um. pouco afastado dos
Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora
do almoço estavam. começando a se chatear com os
bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de
bater no primo. Almoçaram no restaurante do zôo e
quando Duda teve um acesso de raiva porque seu
sorvetão não era bastante grande, tio Válter comproulhe
outro e deixou Harry terminar o primeiro.
Depois Harry achou que devia ter adivinhado que
estava bom demais para durar muito tempo.
Terminado o almoço foram visitar o alojamento dos
répteis. Era fresco e escuro ali, com quadrados
iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros,
rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em
pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e
Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as
grossas pitones que esmagavam um homem. Duda logo
encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas
voltas no carro de tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo
ao tamanho de uma lata de lixo mas naquela hora ela
não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava
dormindo a sono solto.
Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro,
observando as espirais marrons e reluzentes.
- Faz ela se mexer - choramingou para o pai. Tio
Válter bateu no vidro, mas a cobra no se mexeu.
- Faz outra vez - mandou Duda. Tio Válter bateu no
vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou
dormindo.
- Que chato - queixou-se Duda. E saiu arrastando os
pés,
Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a
cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra
morresse de tédio - não tinha companhia a não ser
aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando
incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um
armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia
esmurrando a porta para acorda-lo, mas ao menos ele
podia visitar o resto da casa.
A cobra inesperadamente abri os olhos, que
pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho,
levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos
de Harry.
E piscou.
Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda
volta para ver se havia alguém olhando Não havia. E
retribuiu o olhar da cobra, piscando também.
A cobra acenou com a cabeça na direção de tio
Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto.
Lançou um olhar a Harry que dizia com. todas as
letras:
-Isso é o que me acontece o tempo todo.
- Eu sei - murmurou Harry pelo vidro, embora não
tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo -, deve
ser bem chato.
A cobra concordou com um. aceno de cabeça. enfático.
Mas de onde é que você veio? perguntou Harry.
A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro.
Harry espiou.
Boa Constrictor, Brasil
-Era bom lá?
A jibóia. apontou novamente a placa com o rabo e
Harry leu:
Este espécime nasceu em cativeiro
.
-Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?
A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de
Harry fez os dois pularem:
-DUDA! SR DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA!
VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!
Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais de
pressa que pôde.
-Cai fora - falou dando um soco nas costelas de Harry.
Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto.
O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém
viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no
vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando
uivos de terror.
Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do
tanque da jibóia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou
depressa e escorregou pelo chão - as pessoas no alojamento dos
répteis gritaram e começaram a correr para as saídas.
Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia ;jurar que
uma voz baixa e sibilante tinha dito: "Brasil, aqui vou eu...
Obrigado, amigo."
O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de
choque.
- Mas o vidro - ele não parava de repetir-, para onde foi o
vidro?
O diretor do zôo em pessoa preparou uma xícara de
chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil
vezes. Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo
que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir
abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas
quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter,
Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara
a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra
tentara apertá-lo até matar. Mas o pior de tudo, pelo
menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o
e
stava conversando com ela, não estava, Harry?
Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar
com Harry; Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu
apenas dizer:
- Vá... armário,... Harry... sem comida - antes de desmontar em
uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir urna boa
dose de conhaque.
Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry
desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não
tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até
que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir
escondido até a cozinha buscar alguma coisa para
comer.
Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos,
desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tiniham
morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de
ter estado no carro quando os pais morreram. As vezes, quando
forçava a memória durante longas horas em seu armário,
lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz
verde e uma queimadura na testa. Isto, supunha ele, era o acidente
embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz
verde. Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca
falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer
perguntas. E não havia fotografias deles na casa.
Quando era mais novo, Harry sonhara muitas vezes com um
parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca
acontecera; os Dursley eram sua única família. Ainda assim, ele
achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o
conheciam. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de
cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo
compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry;
furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os
meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha
amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente
para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura

chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se

afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era
a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que
Harry tentava vê-los melhor.
Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam
que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry
Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos
remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma
do Duda.

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