sábado, 25 de agosto de 2012

Harry Potter .. E a Pedra Filosofal ( Cap XV )


- CAPÍTULO QUINZE-

A Floresta Proibida

As coisas não poderiam estar piores.
Filch levou-os à sala da Profa. Minerva no
primeiro andar, onde eles ficaram sentados esperando,
sem trocar uma palavra entre si. Hermione tremia.
Desculpas, álibis e justificativas fantásticas
substituíam-se umas as outras na cabeça de Harry, cada
qual mais capenga do que a anterior Ele não conseguia
ver corno iam se livrar desta encrenca. Estavam
encurralados. Corno podiam ter sido burros a ponto de
se esquecerem da capa? Não havia nenhuma razão no
mundo para a Profa. Minerva aceitar que estivessem
fora da cama, esgueirando-se pela escola a altas horas
da noite, e muito menos que estivessem na alta torre de
astronomia, que era proibida aos alunos a não ser
durante as aulas. Some-se a isso Norberto e a capa da
invisibilidade e seria melhor começarem a fazer as
malas.
Harry achou que as coisas não poderiam ficar
piores. Estava enganado. Quando a Profa. Minerva
apareceu, vinha trazendo Neville.
Harry! - exclamou ele, no instante em que viu os
outros dois. - Eu estava tentando encontrar vocês para
avisar que ouvi Malfoy dizer que ia pegar vocês, disse
que vocês tinham um drag...
Harry sacudiu com força a cabeça para fazer
Neville calar a boca, mas a Profa. Minerva viu. Parecia
mais provável que ela cuspisse fogo pelas narinas do
que Norberto, ali a olhar os três de cima para baixo.
- Eu jamais teria acreditado que vocês fossem
capazes disso. O Sr. Filch diz que vocês estavam no
alto da torre de astronomia. É uma hora da madrugada.
Expliquem-se.
.
Era a primeira vez que Hermione
deixava de responder à pergunta de uma
professora. Olhava para os sapatos, imóvel
como uma estátua.
- Acho que tenho urna boa idéia do que anda
acontecendo - disse a Profa. Minerva. - Não é preciso
ser gênio para somar dois mais dois. Vocês contaram a
Drago Malfoy uma história da carochinha sobre um
dragão, tentando tirá-lo da cama e metê-lo em apuros.
Eu já o apanhei. Suponho que achem engraçado que o
Neville tenha ouvido a história e acreditado nela
também.
Harry surpreendeu o olhar de Neville e tentou lhe
dizer, sem falar, que aquilo não era verdade, porque

Neville tinha uma expressão de espanto e mágoa. Pobre
Neville trapalhão - Harry sabia o que deveria ter-lhe
custado tentar encontrá-los no escuro para avisar.
- Estou desapontada - disse a Profa. Minerva. -
Quatro alunos fora da cama em urna noite! Nunca ouvi
falar numa coisa dessas antes! Você, Hermione
Granger, achei que tinha mais juízo. Quanto a você,
Harry Potter, achei que Grifinória significava mais para
você do que parece. Os três vão pegar uma detenção -
sim, e você também, Neville Longbottom, não há
nada
que lhe dê o direito de andar pela escola à noite,
principalmente nos dias que correm, é muito perigoso,
e vou descontar cinqüenta pontos da Grifinória.
- Cinqüenta?-
Harry ofegou. Perderiam a
dianteira, a dianteira que ele conquistara na ultima
partida de quadribol.
- Cinqüenta pontos
cada um
- acrescentou a
Profa. Minerva, respirando com esforço pelo nariz
longo e pontudo.
- Professora... por favor..
- A senhora não pode...
- Não venha me dizer o que eu posso e o que eu
não posso, Harry Potter. Agora voltem para a cama,
todos vocês. Nunca senti tanta vergonha de alunos da
Grifinória antes.
Cento e cinqüenta pontos perdidos. Isto deixava a
Grifinória em último lugar. Em urna noite, tinham
estragado as chances de Grinfinória conquistar a taça
das casas. Harry teve a sensação de que o fundo do seu
estômago se soltara. Como iriam poder compensar a
perda?
Harry não dormiu a noite inteira. Ouviu Neville
soluçar com
a cara no travesseiro durante o que lhe
pareceram horas. Harry não conseguia
pensar em nenhuma palavra para consola-lo.
Sabia que Neville, como ele mesmo, estava
com medo do amanhecer.
O que aconteceria quando o resto de
Grifinória descobrisse o que tinham feito?
A princípio, os alunos de Grifinória que
passavam pelas gigantescas ampulhetas que marcavam
o placar das casas, no dia seguinte, acharam que tinha
havido um engano. Como podiam de repente ter cento
e cinqüenta pontos menos do que no dia anterior? E
então a história começou a se espalhar. Harry Potter, o
famoso Harry Potter, seu herói dos jogos de quadribol,
fora o responsável pela perda de todos aqueles pontos,
ele e mais uns dois panacas do primeiro ano.
Da posição de aluno mais popular e admirado na
escola, Harry passou a de mais odiado. Até os alunos
da Corvinal e Lufa-lufa se voltaram contra ele, porque
todos desejavam há muito tempo ver a Sonserina
perder a taça das casas. Para todo lado que Harry ia, as
pessoas o apontavam e não se davam ao trabalho de
baixar as vozes para xingá-lo. Os de Sonserina, por
outro lado, batiam palmas quando ele passava,
assobiavam e davam vivas. "Obrigado, Potter, ficamos
lhe devendo essa!"
Somente Rony continuou do seu lado.
- Eles vão esquecer dentro de umas semanas.
Fred e Jorge já perderam montes de pontos desde que
chegaram aqui e as pessoas continuam a gostar deles.
- Eles nunca perderam cento e cinqüenta pontos
de uma tacada, ou perderam? - retrucou Harry; infeliz.
- Bom... não - admitiu Rony.
Era um pouco tarde para consertar o estrago, mas
Harry jurou nunca mais se meter em coisas que não
eram de sua conta. Bastava de espiar e espionar. Sentia
tanta vergonha que foi procurar Olívio para oferecer
sua demissão do time de quadribol.
-
Se demitir?
- trovejou Olívio. - Que bem faria
isso? Como
vamos poder recuperar os pontos se não
conseguirmos vencer no quadribol?
Mas até mesmo o quadribol pendera a graça. O
resto do time não queria falar com Harry durante os
treinos e quando precisavam se referir a ele chamavamno
de "o apanhador".
Hermione e Neville estavam sofrendo também.
Não estavam apanhando tanto quanto Harry; porque
não eram tão conhecidos, mar ninguém falava com
eles, tampouco. Hermione parara de chamar atenção
nas aulas, mantinha a cabeça baixa e trabalhava em
silêncio.
Harry quase se alegrava que os exames não
estivessem multo distantes. Todas as revisões que
precisava fazer o distraiam de sua infelicidade. Ele,
Rony e Hermione ficavam sozinhos, trabalhavam até
tarde da noite, tentando lembrar os ingredientes das
complicadas poções, aprender os feitiços e
encantamentos de cor, decorar as datas das descobertas
mágicas e das revoltas dos duendes...
Então, uma semana antes de começarem os
exames, a nova resolução de Harry de não se meter em
nada que não fosse de sua conta, foi submetida a um
teste inesperado. Ao voltar da biblioteca, sozinho, certa
tarde, ouviu alguém choramingando numa sala de aulas
mais à frente. Ao se aproximar, ouviu a voz de
Quirrell.
- Não... não... outra vez não, por favor..
Parecia que alguém o estava ameaçando. Harry
se aproximou um pouco mais.
- Está bem... está bem - ouviu Quirrell soluçar.
No segundo seguinte, Quirrell saiu correndo da
sala de aulas ajeitando o turbante. Estava pálido e
parecia prestes a chorar E desapareceu de vista; Harry
achou que Quirrell nem sequer reparara nele. Esperou
até que o ruído dos passos de Quirrell desaparecesse e,
então, espiou para dentro da sala. Estava vazia, mas
havia uma porta entreaberta na outra extremidade.
Harry já ia em direção à porta, quando se lembrou de
que prometera a si mesmo não se meter em nada.
Assim mesmo, teria apostado doze pedras
Filosofais que Snape acabara de deixar a sala, e pelo
que Harry acabara de ouvir ganhara uma nova
agilidade nos passos. Quirrell parecia ter finalmente
cedido.
Harry voltou à biblioteca, onde Hermione estava
tomando os pontos de astronomia de Rony. Contoulhes
o que ouvira.
Snape então conseguiu - exclamou Rony; - Se
Quirrell contou a ele como quebrar o feitiço antimagia
negra...
- Mas ainda temos Fofo - lembrou Hermione.
- Talvez Snape tenha descoberto como passar
pelo cachorro sem perguntar ao Rúbeo - disse Rony;
correndo os olhos pelos milhares de livros que os
rodeavam - Aposto como tem um livro por aqui que
ensina como se passar por um cachorrão de três
cabeças. Então, o que vamos fazer, Harry?
O brilho de aventura voltava a iluminar os olhos
de Rony; mas Hermione respondeu, antes que Harry
pudesse fazê-lo.
- Vamos procurar Dumbledore. Isto é o que
deveríamos ter feito há séculos. Se tentarmos alguma
coisa por conta própria, com certeza vamos ser
expulsos.
- Mas não temos provas- disse Harry. - Quirrell
está apavorado demais para nos apoiar. Snape só
precisa dizer que não sabe como foi que o trasgo entrou
no Dia das Bruxas e que nem chegou perto do terceiro
andar. Em quem vocês acham que eles vão acreditar,
nele ou em nós? Não é bem segredo que nós o
detestamos, Dumbledore vai pensar que inventamos
isso para ele ser despedido. Filch não nos ajudaria nem
que a vida dele dependesse disso, é muito amigo de
Snape, e quanto mais alunos forem expulsos, tanto
melhor, é o que ele pensa. E não se esqueçam, nós nem
devíamos saber da Pedra nem de Fofo. O que vai exigir
muita explicação.
Hermione pareceu convencida, mas não Rony
- Se déssemos só uma espiadinha...
- Não - respondeu Harry decidido -, já demos
muitas espiadinhas.
E, dizendo isso, puxou um mapa de júpiter para
perto e começou a aprender os nomes das luas.
Na manhã seguinte, Harry Hermione e
Neville receberam bilhetes â mesa do café
da manhã. Diziam a mesma coisa:
Sua detenção começará às vinte e três horas.
Aguardem o Sr. Filch no saguão de entrada.
Profa. Minerva.
No furor provocado pela perda de pontos, Harry
esquecera que ainda tinham detenções a cumprir.
Esperou que Hermione reclamasse que aquilo
representava perder uma noite inteira de revisões, mas
não disse uma palavra. Achava, como Harry, que me
teciam o que tinham recebido.
Ás onze horas da noite eles se despediram de
Rony na sala comunal e desceram com Neville para o
saguão de entrada. Filch já se encontrava lá - e também
Malfoy. Harry esquecera que Malfoy pegara uma
detenção também.
- Sigam-me - disse Filch, acendendo uma
lanterna e levando-os para fora.
- Aposto que vão pensar duas vezes antes de
desobedecer novamente ao regulamento da escola, não
é mesmo? - disse caçoando - Ah, sim, trabalho pesado
e dor são os melhores mestres, se querem saber. E uma
pena que tenham suspendido os castigos antigos,
pendurar o aluno no teto pelos pulsos durante alguns
dias, ainda tenho as correntes na minha sala, conservoas
azeitadas para o caso de precisarem. Muito bem, lá
vamos nós, e nem pensem em fugir agora, será pior
para vocês se fizerem isso.
Eles caminharam pela propriedade às escutas.
Neville não parava de fungar. Harry ficou imaginando
qual seria o castigo. Devia ser alguma coisa realmente
horrível, ou Filch não pareceria tão contente.
A lua brilhava, mas as nuvens que passavam por
ela lançava-os na escuridão. A frente, Harry via as
janelas iluminadas da cabana de Hagrid. Então,
ouviram um grito distante.
- É você, Filch? Ande logo, quero começar de a
vez.
O ânimo de Harry melhorou; se eles iam
trabalhar com Hagrid então não seria tão ruim. Seu
alivio deve ter transparecido no tosto, porque Filch
falou:
- Acho que você está pensando que vai se divertir
com aquele panaca? Pois pode pensar outra vez,
menino. É para a floresta que você vai e estarei muito
enganado se voltar inteiro.
Ao ouvir isso, Neville deixou escapar um gemido
e Malfoy ficou paralisado.
A floresta? - repetiu e não pareceu tão tranqüilo
como de costume. - Não podemos entrar lá à
noite...
tem todo tipo de coisa lá.. lobisomens, ouvi falar.
Neville agarrou a manga das vestes de Harry e
pareceu se engasgar.
- Isto é o que pensa, não é? - disse Filch, a voz
esganiçando-se de satisfação. - Devia ter pensado nos
lobisomens antes de se meterem encrencas, não acha?
Hagrid saiu do escuro caminhando em direção a
eles, com Canino nos calcanhares. Carregava um
grande arco e uma aljava com flechas pendurada ao
ombro.
- Até que enfim. já estou esperando há meia hora.
Tudo bem, Harry; Hermione?
- Eu não seria tão simpático com eles, Hagrid -
disse Filch com frieza - , afinal eles estão aqui para
serem castigados.
- E por isso que você está atrasado, não é? - disse
Hagrid, amarrando a cara. - Andou passando carão
neles, não é? isso não e sua função. Você fez a sua
parte, eu pego daqui para a frente.
- Volto ao amanhecer para recolher o que sobrar
deles - disse Filch maldoso, deu meia-volta e retornouao castelo, balançando a lanterna na escuridão.
Malfoy virou-se então para. Hagrid.
- Não vou entrar nessa floresta - disse, e Harry
ficou contente de ouvir a nota de pânico em sua voz.
- Vai, sim, se quiser continuar em Hogwarts -
disse Hagrid com ferocidade. - Você agiu mal e agora
tem de pagar pelo que fez...
- Mas isso é coisa para empregados e não para
estudantes. Achei que íamos fazer uma cópia ou outra
coisa do gênero, se meu pai souber que eu estou
fazendo isso, ele...
- ...lhe dirá que em Hogwarts é assim - rosnou
Hagrid. - Fazer cópia! Para que serve? Você vai fazer
uma coisa útil ou vai sair da escola. E se pensa que seu
pai vai preferir que você seja expulso, então volte para
o castelo e faça suas malas. Vamos!
Malfoy não se mexeu. Encarou Hagrid furioso e
em seguida baixou os olhos.
- Muito bem, então - disse Hagrid - ,agora
prestem atenção, porque é perigoso o que vamos fazer
hoje à noite e não quero ninguém se arriscando.
Venham até aqui comigo.
Ele os conduziu à orla da floresta. Erguendo a
lanterna bem alto, apontou para uma trilha serpeante de
terra batida que desaparecia por entre árvores escuras.
Uma brisa leve levantou os cabelos dos meninos,
quando eles se viraram para a floresta.
- Olhem ali, estão vendo aquela coisa brilhando
no chão? Prateada? Aquilo é sangue de unicórnio. Tem
um unicórnio ali que foi ferido gravemente por alguma
coisa. E a segunda vez esta semana. Encontrei um
morto na quarta-feira passada. Vimos tentar encontrar o
pobrezinho. Talvez a gente precise pôr fim ao
sofrimento dele.
- E se a coisa que feriu o unicórnio nos encontrar
primeiro? - perguntou Malfoy, incapaz de conter o
medo na voz.
- Não há nenhuma criatura viva na floresta que vá
machucá-lo se você estiver comigo e com o Canino. E
siga a trilha. Muito bem, agora, vamos nos separar em
dois grupos e seguir a trilha em direções opostas. Tem
sangue por toda parte, ele deve estar cambaleando pelo
menos desde a noite passada.
- Eu quero Canino - disse Malfoy depressa,
olhando para as presas de Canino.
- Muito bem, mas vou-lhe avisando, ele é
covarde. Então eu, Harry e Hermione vamos por aqui e
Drago, Neville e Canino por ali. Agora, se algum de
nós achar o unicórnio, disparamos centelhas verdes
pata o alto, 0K? Peguem as varinhas e comecem a
praticar agora, assim. E se alguém se enrolar, dispare
centelhas vermelhas, e vamos todos procurá-lo; então,
cuidado. Vamos.
A floresta estava escura e silenciosa. Entrando
por ela, chegaram a uma bifurcação, e Harry, Hermione
e Hagrid tomaram o caminho da esquerda enquanto
Malfoy, Neville e Canino tomaram o da direita.
Caminharam em silêncio, com os olhos no chão.
Aqui e ali um raio de luar penetrava por entre os galhos
e iluminava uma mancha de sangue prateado nas folhas
caídas.
Harry viu que Hagrid parecia muito preocupado.
- É possível
um lobisomem estar matando os
unicórnios? Perguntou?
- Não com essa rapidez, não é fácil matar um
unicórnio, eles são criaturas mágicas poderosas. Nunca
soube de nenhum ter sido ferido antes
Passaram por um toco de árvore coberto de
musgo. Harry ou viu água correndo, devia haver um
riacho por perto. Ainda viam manchas de sangue de
unicórnio aqui e ali pela trilha serpeante.
- Você está bem, Hermione? - sussurrou Hagrid -
Não se preocupe, ele não pode ter ido longe se está tão
ferido e então poderemos,.. PARA TRÁS DAQUELA
ARVORE!
Hagrid agarrou Harry e Hermione e guindou-os
para fora da trilha e para trás de um enorme carvalho.
Puxou uma flecha e encaixou-a no arco, e ergueu-o,
pronto para atirar. Os três apuraram os ouvidos.
Alguma coisa deslizava pelas folhas mortas ali perto;
parecia uma capa arrastando no chão. Hagrid apertava
os olhos para enxergar a trilha escura à frente, mas,
passados alguns segundos, o ruído desapareceu.
- Eu sabia - murmurou ele. - Tem alguma coisa
aqui que está fora de lugar,
- Um lobisomem? - sugeriu Harry
- Isso não era um lobisomem e não era um
unicórnio, tão pouco - disse Hagrid sério. - Muito bem,
me sigam, mas tenham cuidado, agora.
Continuaram a caminhar mais devagar, os
ouvidos à escuta do menor ruído. De repente, alguma
coisa na clareira adiante, alguma coisa sem dúvida se
mexia.
- Quem está ai? - chamou Hagrid. - Apareça.
Estou armado! E na clareira apareceu um vulto - era
um homem, ou um cavalo? Até a cintura, um homem,
com cabelos e barba vermelhos, mas da cintura para
baixo era um luzidio cavalo castanho com uma cauda
longa e avermelhada. Os queixos de Harry e Hermione
caíram.
- Ali, é você, Ronan - exclamou Hagrid aliviado.
- Como vai?
Ele se adiantou e apertou a mão do centauro.
- Boa noite para você, Hagrid - disse Ronan.
Tinha uma voz grave e triste. - Você ia atirar em mim?
-
Cautela nunca é demais,
Ronan
disse Hagrid,
dando uma palmadinha no arco.
-
Tem alguma coisa
à
solta
nesta
floresta. Ah, sim, estes são Harry Potter
e
Hermione Granger. Alunos lá da escola. E este é
Ronan. E um centauro.
- Já percebi disse Hermione coma voz fraca.
Boa noite - cumprimentou Ronan - São alunos, é?
E aprendem muita coisa na escola?
- Hum.
-
Um
pouquinho - respondeu Hermione tímida.
- Um pouquinho. Bom, já é alguma coisa -
suspirou Ronan. Depois, jogou a cabeça para trás e
contemplou o céu. - Marte está brilhante hoje.
- É - disse Hagrid, mirando o céu também. -
Olhe, foi bom termos nos encontrado, Ronan, porque
tem um unicórnio ferido. Você viu alguma coisa?
Ronan não respondeu imediatamente. Continuou
a olhar para o alto sem piscar e então suspirou outra
vez.
- Os inocentes são sempre as primeiras vitimas.
Foi assim no passado, é assim agora.
- E, mas você viu alguma coisa, Ronan? Alguma
coisa anormal?
- Marte está brilhante hoje - repetiu Ronan
enquanto Hagrid o observava impaciente. - Um brilho
anormal.
- Sim, mas estou me referindo a alguma coisa
mais perto da terra. Você não notou nada estranho?
Mais urna vez, Ronan levou algum tempo para
responder. Por fim disse:
- A floresta esconde muitos segredos.
Um movimento nas árvores atrás de Ronan fez
Hagrid erguer o arco outra vez, mas era apenas um
segundo centauro, de cabe-los e corpo negros e de
aspecto mais selvagem do que Ronan.
- Olá, Agouro - cumprimentou Hagrid. - Tudo
bem?
- Boa noite, Hagrid, você vai bem, espero.
- Bastante bem. Olhe, eu estava mesmo
perguntando a Ronan, você viu alguma coisa estranha
por aqui ultimamente? É que um unicórnio foi ferido.
Você sabe alguma coisa?
Agouro foi se postar ao lado de Ronan. Olhou
para o céu.
- Marte está brilhante hoje - disse simplesmente.
- Já sabemos - respondeu Hagrid agastado. -
Bom, se um de vocês vir alguma coisa, me avise, por
favor. Vamos indo, então.
Harry e Hermione saíram com ele da clareira,
espiando Ronan e Agouro por cima dos ombros até as
árvores tamparem sua visão.
- Nunca - disse Hagrid irritado - tentem obter
uma resposta direta de um centauro. Vivem
contemplando as estrelas. Não estão interessados em
nada que esteja mais perto do que a lua.
- E tem muitos
deles
aqui? - perguntou Hermione
- Ah, um bom numero... Vivem isolados na maior
parte do tempo, mas têm a bondade de aparecer quando
preciso dar uma palavrinha. São inteligentes, veja bem,
os centauros... sabem das coisas... só não falam muito.
- Você acha que foi um centauro que ouvimos
antes? - disse Harry..
- Você achou que era barulho de cascos? Não, se
quer saber, aquilo é o que anda matando os unicórnios.
Nunca ouvi nada parecido antes.
E continuaram a caminhar pela floresta densa e
escura. Harry não parava de espiar, nervoso, por cima
do ombro. Tinha a sensação ruim de que alguém os
observava. Estava contente que tivessem Hagrid e seu
arco com eles. Acabavam de passar uma curva na trilha
quando Hermione agarrou o braço de Hagrid.
- Rúbeo! Olhe! centelhas vermelhas, os outros
estão em apuros!
- Vocês dois esperem aqui! - gritou Hagrid -
Fiquem na trilha, volto para apanhá-los!
Eles o ouviram romper o mato e ficaram parados
se entreolhando, muito assustados, até não conseguirem
ouvir mais nada a volta exceto o farfalhar das árvores.
- Você acha que eles estão machucados? -
sussurrou Hermione.
- Não me importo com Malfoy mas se alguma
coisa pegou Neville... É culpa nossa que ele esteja aqui.
Os minutos se arrastaram. Seus ouvidos pareciam
mais aguçados do que o normal. Harry parecia estar
registrando cada suspiro do vento, cada graveto que
quebrava. O que estava acontecendo? Onde estavam os
outros?
Finalmente, um grande barulho de mato pisado
anunciou a volta de Hagrid. Malfoy, Neville e Canino o
acompanhavam. Hagrid vinha danado da vida. Malfoy;
ao que parecia, se atrasara e agarrara Neville por trás
para lhe dar um susta Neville se assustara e mandara o
sinal.
- Teremos sorte se apanharmos alguma coisa
agora, com a barulheira que vocês aprontaram. Muito
bem, vamos trocar os grupos: Neville, você e Hermione
ficam comigo; Harry; você com o Canino e esse idiota.
Sinto muito - acrescentou Hagrid para Harry num
cochicho - mas vai ser mais difícil ele assustar você e
precisamos acabar o nosso serviço.
Então Harry entrou pelo coração da floresta com
Malfoy e Canino. Andaram quase meia hora,
embrenhando-se cada vez mais, até que a trilha se
tornou impraticável porque as árvores cresciam
demasiado juntas., Havia salpicos nas raízes de uma
árvore, como se o pobre bicho tivesse se debatido de
dor por ali. Harry viu uma clareira adiante, através dos
galhos emaranhados de um velho carvalho.
- Olhe... - murmurou, erguendo o braço para
deter Malfoy.
Alguma coisa muito branca brilhava no chão.
Eles se aproximaram aos poucos.
Era o unicórnio, sim, e estava morto. Harry nunca
vira nada tão bonito nem tão triste. As pernas longas e
finas estavam esticadas em ângulos estranhos onde ele
caíra e sua crina espalhava-se nacarada sobre as folhas
escuras.
Harry dera um passo à frente mas um som
de algo que deslizava o fez congelar onde
estava. Uma moita na orla da clareira
estremeceu... Então, do meio das sombras
saiu um vulto encapuzado que se arrastava
de gatas pelo chão como uma fera à caça.
Harry, Malfoy e Canino ficaram paralisados.
O vulto encapuzado aproximou-se do
unicórnio, abaixou a cabeça sobre ferimento
no flanco do animal e começou a beber o
seu sangue.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Malfoy soltou um grito terrível e fugiu, seguido
por Canino. A figura encapuzada ergueu a cabeça e
olhou diretamente para Harry - o sangue do unicórnio
escorrendo pelo peito. Ficou de pé e avançou rápido
para Harry - que não conseguiu se mexer de medo.
Então uma dor; como ele nunca sentira antes,
varou sua cabeça, como se a sua cicatriz estivesse em
fogo - meio cego, ele recuou cambaleando. Ouviu
cascos as suas costas, galopando, e aí alguma coisa
saltou por cima dele, e atacou o vulto.
A dor na cabeça de Harry foi tão forte que ele
caiu de joelhos. Levou uns dois minutos para passar
Quando ergueu os olhos, o vulto desaparecera. Um
centauro avultava-se sobre ele, mas não era Ronan nem
Agouro; este parecia mais novo, tinha cabelos louros
prateados e o corpo baio.
- Você está bem? - perguntou o centauro,
ajudando Harry a se levantar.
- Estou, obrigado, o que
foi
aquilo?
O centauro não respondeu. Tinha espantosos
olhos azuis, como safiras muito claras. Mirou Harry
com atenção, demorando o olhar na cicatriz que se
sobressaia, lívida, em sua testa.
- Você é o menino Potter E melhor voltar para a
companhia de Hagrid. A floresta não é segura a estas
horas, principalmente para você. Sabe montar? Será
mais rápido. Meu nome é Firenze - acrescentou ao
dobrar as patas dianteiras para Harry poder subir no seu
lombo.
Ouviram repentinamente o ruído de galopes
vindo do outro lado da clareira. Ronan e Agouro
irromperam do meio das árvores, os flancos arfantes e
suados.
- Firenze! - Agouro trovejou. - O que é que você
está fazendo? Está carregando um humano! Não tem
vergonha? Você é uma mula?
- Você sabe quem ele é? - retrucou Firenze - E o
menino Potter. Quanto mais rápido ele sair da floresta,
melhor.
- O que é que você andou contando a ele? -
rosnou Agouro.
- Lembre-se, Firenze, juramos nunca
nos indispor com os céus. Você não leu o
que vai acontecer nos movimentos dos
planetas?
Ronan pateou o chão, nervoso.
Tenho certeza de que Firenze achou que estava
fazendo o melhor - falou em tom sombrio.
Agouro escoiceou com raiva.
- Fazendo o melhor! O que tem isso a ver conosco?
Os centauros se preocupam com o que foi previsto!
Não é nossa função ficar correndo por ai como
jumentos recolhendo humanos perdidos na nossa
floresta!
Firenze de repente empinou-se nas patas traseiras
com raiva, de modo que Harry teve de se agarrar nos
seus ombros para não cair.
- Você não viu o unicórnio! - Firenze berrou para
Agouro. - Você não percebe por que foi morto? Ou
será que os planetas não lhe contaram esse segredo?
Tomei posição contra o que está rondando a floresta,
Agouro, tomei, sim, ao lado dos humanos se for
preciso.
E Firenze virou-se depressa para partir; com Harry
agarrando-se o melhor que podia, eles mergulharam
entre as árvores, deixando Ronan e Agouro para trás.
E Harry não fazia a menor idéia do que estava
acontecendo.
- Por que Agouro está tão zangado? - perguntou. -
O que era aquela coisa de que você me livrou?
Firenze abrandou a marcha, alertou Harry para
manter a cabeça abaixada a fim de evitar os galhos
baixos, mas não respondeu à pergunta. Continuaram
por entre as árvores em silêncio por tanto tempo que
Harry achou que Firenze não queria mais falar com ele.
Estavam passando por um trecho particularmente denso
da floresta, quando Firenze parou de repente.
- Harry Potter, você sabe para que se usa o sangue
de unicórnio?
- Não - disse Harry surpreendido pela estranha
pergunta. - Só usamos o chifre e a cauda na aula de
Poções.
- Porque é uma coisa monstruosa matar um
unicórnio. Só alguém que não tem nada a perder e tudo
a ganhar cometeria um crime desses. O sangue do
unicórnio mantém a pessoa viva, mesmo quando ela
está à beira da morte, mas a um preço terrível Ela
matou algo puro e indefeso para se salvar e só terá uma
semivida, uma vida amaldiçoada, do momento que o
sangue lhe tocar os lábios.
Harry ficou olhando para a nuca de Firenze, que
estava prateada de luar.
- Mas quem estaria tão desesperado? - pensou em
voz alta Se a pessoa vai ser amaldiçoada para sempre, é
preferível morrer, não é?
- É - concordou Firenze -, a não ser que ela
precise se manter viva o tempo suficiente para beber
outra coisa, algo que vai lhe devolver a força e o poder
totais, algo que significa que jamais poderá morrer. Sr.
Potter, o senhor sabe o que é que está escondido na sua
escola neste momento?
- A Pedra Filosofal! É claro, o elixir da vida! Mas
não percebo quem...
- Não consegue pensar em ninguém que tenha
esperado muitos anos para retomar o poder, que se
apegou à vida, esperando uma chance?
Foi como se uma mão de ferro de repente
apertasse o coração de Harry. Acima do farfalhar das
árvores, ele parecia ouvir mais urna vez o que Hagrid
lhe contara na noite que se conheceram: "Uns dizem
que ele morreu. Bobagem, na minha opinião. Não sei
se ele ainda teria bastante humanidade para morrer"
- Você está dizendo - Harry falou rouco - que
aquele era o
Vol..
- Harry! Harry, você está bem?
Hermione vinha correndo ao encontro deles pela
trilha, Hagrid a acompanhava arfando.
- Estou bem - disse Harry, sem nem saber o que
estava dizendo. - O unicórnio morreu, Rúbeo, está
naquela clareira lá atrás.
- É aqui que eu o deixo - murmurou Firenze
enquanto Hagrid corria para examinar o unicórnio. -
Está seguro agora.
Harry escorregou de suas costas.
- Boa sorte, Harry Potter - disse Firenze. - Os
planetas já foram mal interpretados antes, até mesmo
pelos centauros. Espero que seja o que está ocorrendo
agora.
Virou-se e entrou a trote pela floresta, deixando
para trás um Harry cheio de tremores.
Rony adormecera no salão comunal ás escuras,
esperando os amigos voltarem. Gritou alguma coisa
sobre faltas no quadribol,
Quando Harry o sacudiu com força para acordá-lo. Em
questão de segundos, porém, seus olhos se arregalaram
quando Harry começou a contar a ele e à Hermione o
que acontecera na floresta.
Harry nem conseguia se sentar. Andava para
cima e para baixo na frente da lareira. Continuava a
tremer.
Snape quer a pedra para Voldemort...e Voldemort
está esperando na floresta... e todo esse tempo
pensamos que Snape só queria ficar rico.
- Pare de repetir esse nome! - disse Rony num
sussurro de terror como se Voldemort pudesse ouvi-los.
Harry nem o escutou.
- Firenze me salvou, mas não devia ter feito isso.
Agouro ficou furioso... falou de interferência naquilo
que os planetas anunciaram que ia acontecer Eles
devem estar indicando que Voldemort vai voltar.
Agouro acha que Firenze devia ter deixado Voldemort
me matar. Imagino que isso também esteja escrito nas
estrelas.
- Quer parar de dizer esse nome!-
sibilou Rony.
- Portanto só preciso esperar que Snape roube a
pedra - continuou Harry febril -, então Voldemort vai
poder voltar e acabar comigo. Bem, quem sabe Agouro
vai ficar feliz.
Hermione parecia muito assustada, mas teve uma
palavra de consolo.
- Harry; todo mundo diz que Dumbledore é a
única pessoa de quem Você-Sabe-Quem já teve medo.
Com Dumbledore por perto Você-Sabe-Quem não vai
tocar em você. Em todo o caso, quem disse que os
centauros têm razão? Isso está me parecendo
adivinhação, e a Profa. Minerva diz que adivinhar o
futuro é um ramo muito inexato da magia.
O céu havia clareado antes de terminarem de
conversar Foram se deitar exaustos, com as gargantas
ardendo. Mas as surpresas da noite não tinham
terminado.
Quando Harry puxou os lençóis da cama,
encontrou a capa da invisibilidade cuidadosamente
dobrada sobre o forro. Tinha um bilhete espetado nela:
Por via das dúvidas

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