- CAPÍTULO QUINZE-
|
A Floresta Proibida
|
As coisas não poderiam estar piores.
|
Filch levou-os à sala da Profa. Minerva no
|
primeiro andar, onde eles ficaram sentados esperando,
|
sem trocar uma palavra entre si. Hermione tremia.
|
Desculpas, álibis e justificativas fantásticas
|
substituíam-se umas as outras na cabeça de Harry, cada
|
qual mais capenga do que a anterior Ele não conseguia
|
ver corno iam se livrar desta encrenca. Estavam
|
encurralados. Corno podiam ter sido burros a ponto de
|
se esquecerem da capa? Não havia nenhuma razão no
|
mundo para a Profa. Minerva aceitar que estivessem
|
fora da cama, esgueirando-se pela escola a altas horas
|
da noite, e muito menos que estivessem na alta torre
de
|
astronomia, que era proibida aos alunos a não ser
|
durante as aulas. Some-se a isso Norberto e a capa da
|
invisibilidade e seria melhor começarem a fazer as
|
malas.
|
Harry achou que as coisas não poderiam ficar
|
piores. Estava enganado. Quando a Profa. Minerva
|
apareceu, vinha trazendo Neville.
|
Harry! - exclamou ele, no instante em que viu os
|
outros dois. - Eu estava tentando encontrar vocês para
|
avisar que ouvi Malfoy dizer que ia pegar vocês, disse
|
que vocês tinham um drag...
|
Harry sacudiu com força a cabeça para fazer
|
Neville calar a boca, mas a Profa. Minerva viu.
Parecia
|
mais provável que ela cuspisse fogo pelas narinas do
|
que Norberto, ali a olhar os três de cima para
baixo.
- Eu jamais teria acreditado que vocês fossem
|
capazes disso. O Sr. Filch diz que vocês estavam no
|
alto da torre de astronomia. É uma hora da madrugada.
|
Expliquem-se.
|
.
|
Era a primeira vez que Hermione
|
deixava de responder à pergunta de uma
|
professora. Olhava para os sapatos, imóvel
|
como uma estátua.
|
- Acho que tenho urna boa idéia do que anda
|
acontecendo - disse a Profa. Minerva. - Não é preciso
|
ser gênio para somar dois mais dois. Vocês contaram a
|
Drago Malfoy uma história da carochinha sobre um
|
dragão, tentando tirá-lo da cama e metê-lo em apuros.
|
Eu já o apanhei. Suponho que achem engraçado que o
|
Neville tenha ouvido a história e acreditado nela
|
também.
|
Harry surpreendeu o olhar de Neville e tentou lhe
|
dizer, sem falar, que aquilo não era verdade,
porque
Neville tinha uma expressão de espanto e mágoa. Pobre
|
Neville trapalhão - Harry sabia o que deveria ter-lhe
|
custado tentar encontrá-los no escuro para avisar.
|
- Estou desapontada - disse a Profa. Minerva. -
|
Quatro alunos fora da cama em urna noite! Nunca ouvi
|
falar numa coisa dessas antes! Você, Hermione
|
Granger, achei que tinha mais juízo. Quanto a você,
|
Harry Potter, achei que Grifinória significava mais
para
|
você do que parece. Os três vão pegar uma detenção -
|
sim, e você também, Neville Longbottom, não há
|
nada
|
que lhe dê o direito de andar pela escola à noite,
|
principalmente nos dias que correm, é muito perigoso,
|
e vou descontar cinqüenta pontos da Grifinória.
|
- Cinqüenta?-
|
Harry ofegou. Perderiam a
|
dianteira, a dianteira que ele conquistara na ultima
|
partida de quadribol.
|
- Cinqüenta pontos
|
cada um
|
- acrescentou a
|
Profa. Minerva, respirando com esforço pelo nariz
|
longo e pontudo.
|
- Professora... por favor..
|
- A senhora não pode...
|
- Não venha me dizer o que eu posso e o que eu
|
não posso, Harry Potter. Agora voltem para a cama,
|
todos vocês. Nunca senti tanta vergonha de alunos da
|
Grifinória antes.
|
Cento e cinqüenta pontos perdidos. Isto deixava a
|
Grifinória em último lugar. Em urna noite, tinham
|
estragado as chances de Grinfinória conquistar a taça
|
das casas. Harry teve a sensação de que o fundo do seu
|
estômago se soltara. Como iriam poder compensar a
|
perda?
|
Harry não dormiu a noite inteira. Ouviu Neville
|
soluçar com
|
a cara no travesseiro durante o que lhe
|
pareceram horas. Harry não conseguia
|
pensar em nenhuma palavra para consola-lo.
|
Sabia que Neville, como ele mesmo, estava
|
com medo do amanhecer.
|
O que aconteceria quando o resto de
|
Grifinória descobrisse o que tinham feito?
|
A princípio, os alunos de Grifinória que
|
passavam pelas gigantescas ampulhetas que marcavam
|
o placar das casas, no dia seguinte, acharam que tinha
|
havido um engano. Como podiam de repente ter cento
|
e cinqüenta pontos menos do que no dia anterior? E
|
então a história começou a se espalhar. Harry
Potter, o
famoso Harry Potter, seu herói dos jogos de quadribol,
|
fora o responsável pela perda de todos aqueles pontos,
|
ele e mais uns dois panacas do primeiro ano.
|
Da posição de aluno mais popular e admirado na
|
escola, Harry passou a de mais odiado. Até os alunos
|
da Corvinal e Lufa-lufa se voltaram contra ele, porque
|
todos desejavam há muito tempo ver a Sonserina
perder a taça das casas. Para todo lado que Harry ia,
as
|
pessoas o apontavam e não se davam ao trabalho de
|
baixar as vozes para xingá-lo. Os de Sonserina, por
|
outro lado, batiam palmas quando ele passava,
|
assobiavam e davam vivas. "Obrigado, Potter,
ficamos
|
lhe devendo essa!"
|
Somente Rony continuou do seu lado.
|
- Eles vão esquecer dentro de umas semanas.
|
Fred e Jorge já perderam montes de pontos desde que
|
chegaram aqui e as pessoas continuam a gostar deles.
|
- Eles nunca perderam cento e cinqüenta pontos
|
de uma tacada, ou perderam? - retrucou Harry; infeliz.
|
- Bom... não - admitiu Rony.
|
Era um pouco tarde para consertar o estrago, mas
|
Harry jurou nunca mais se meter em coisas que não
|
eram de sua conta. Bastava de espiar e espionar.
Sentia
|
tanta vergonha que foi procurar Olívio para oferecer
|
sua demissão do time de quadribol.
|
-
|
Se demitir?
|
- trovejou Olívio. - Que bem faria
|
isso? Como
|
vamos poder recuperar os pontos se não
|
conseguirmos vencer no quadribol?
|
Mas até mesmo o quadribol pendera a graça. O
|
resto do time não queria falar com Harry durante os
|
treinos e quando precisavam se referir a ele
chamavamno
|
de "o apanhador".
|
Hermione e Neville estavam sofrendo também.
|
Não estavam apanhando tanto quanto Harry; porque
|
não eram tão conhecidos, mar ninguém falava com
|
eles, tampouco. Hermione parara de chamar atenção
|
nas aulas, mantinha a cabeça baixa e trabalhava em
|
silêncio.
|
Harry quase se alegrava que os exames não
|
estivessem multo distantes. Todas as revisões que
|
precisava fazer o distraiam de sua infelicidade.
Ele,
Rony e Hermione ficavam sozinhos, trabalhavam até
|
tarde da noite, tentando lembrar os ingredientes das
|
complicadas poções, aprender os feitiços e
|
encantamentos de cor, decorar as datas das descobertas
|
mágicas e das revoltas dos duendes...
|
Então, uma semana antes de começarem os
|
exames, a nova resolução de Harry de não se meter em
|
nada que não fosse de sua conta, foi submetida a um
|
teste inesperado. Ao voltar da biblioteca, sozinho,
certa
|
tarde, ouviu alguém choramingando numa sala de aulas
|
mais à frente. Ao se aproximar, ouviu a voz de
|
Quirrell.
|
- Não... não... outra vez não, por favor..
|
Parecia que alguém o estava ameaçando. Harry
|
se aproximou um pouco mais.
|
- Está bem... está bem - ouviu Quirrell soluçar.
|
No segundo seguinte, Quirrell saiu correndo da
|
sala de aulas ajeitando o turbante. Estava pálido e
|
parecia prestes a chorar E desapareceu de vista; Harry
|
achou que Quirrell nem sequer reparara nele. Esperou
|
até que o ruído dos passos de Quirrell desaparecesse
e,
|
então, espiou para dentro da sala. Estava vazia, mas
|
havia uma porta entreaberta na outra extremidade.
|
Harry já ia em direção à porta, quando se lembrou de
|
que prometera a si mesmo não se meter em nada.
|
Assim mesmo, teria apostado doze pedras
|
Filosofais que Snape acabara de deixar a sala, e pelo
|
que Harry acabara de ouvir ganhara uma nova
|
agilidade nos passos. Quirrell parecia ter finalmente
|
cedido.
|
Harry voltou à biblioteca, onde Hermione estava
|
tomando os pontos de astronomia de Rony. Contoulhes
|
o que ouvira.
|
Snape então conseguiu - exclamou Rony; - Se
|
Quirrell contou a ele como quebrar o feitiço antimagia
|
negra...
- Mas ainda temos Fofo - lembrou Hermione.
|
- Talvez Snape tenha descoberto como passar
|
pelo cachorro sem perguntar ao Rúbeo - disse Rony;
|
correndo os olhos pelos milhares de livros que os
|
rodeavam - Aposto como tem um livro por aqui que
|
ensina como se passar por um cachorrão de três
|
cabeças. Então, o que vamos fazer, Harry?
|
O brilho de aventura voltava a iluminar os olhos
|
de Rony; mas Hermione respondeu, antes que Harry
|
pudesse fazê-lo.
|
- Vamos procurar Dumbledore. Isto é o que
|
deveríamos ter feito há séculos. Se tentarmos alguma
|
coisa por conta própria, com certeza vamos ser
expulsos.
|
- Mas não temos provas- disse Harry. - Quirrell
|
está apavorado demais para nos apoiar. Snape só
|
precisa dizer que não sabe como foi que o trasgo
entrou
|
no Dia das Bruxas e que nem chegou perto do terceiro
|
andar. Em quem vocês acham que eles vão acreditar,
|
nele ou em nós? Não é bem segredo que nós o
|
detestamos, Dumbledore vai pensar que inventamos
|
isso para ele ser despedido. Filch não nos ajudaria
nem
|
que a vida dele dependesse disso, é muito amigo de
|
Snape, e quanto mais alunos forem expulsos, tanto
|
melhor, é o que ele pensa. E não se esqueçam, nós nem
|
devíamos saber da Pedra nem de Fofo. O que vai exigir
|
muita explicação.
|
Hermione pareceu convencida, mas não Rony
|
- Se déssemos só uma espiadinha...
|
- Não - respondeu Harry decidido -, já demos
|
muitas espiadinhas.
|
E, dizendo isso, puxou um mapa de júpiter para
|
perto e começou a aprender os nomes das luas.
|
Na manhã seguinte, Harry Hermione e
|
Neville receberam bilhetes â mesa do café
|
da manhã. Diziam a mesma coisa:
|
Sua detenção começará às vinte e três horas.
|
Aguardem o Sr. Filch no saguão de entrada.
|
Profa. Minerva.
|
No furor provocado pela perda de pontos, Harry
|
esquecera que ainda tinham detenções a cumprir.
|
Esperou que Hermione reclamasse que aquilo
|
representava perder uma noite inteira de revisões, mas
|
não disse uma palavra. Achava, como Harry, que me
|
teciam o que tinham recebido.
|
Ás onze horas da noite eles se despediram de
|
Rony na sala comunal e desceram com Neville para o
|
saguão de entrada. Filch já se encontrava lá - e
também
|
Malfoy. Harry esquecera que Malfoy pegara uma
|
detenção também.
|
- Sigam-me - disse Filch, acendendo uma
|
lanterna e levando-os para fora.
|
- Aposto que vão pensar duas vezes antes de
|
desobedecer novamente ao regulamento da escola, não
|
é mesmo? - disse caçoando - Ah, sim, trabalho pesado
|
e dor são os melhores mestres, se querem saber. E uma
|
pena que tenham suspendido os castigos antigos,
|
pendurar o aluno no teto pelos pulsos durante alguns
|
dias, ainda tenho as correntes na minha sala,
conservoas
azeitadas para o caso de precisarem. Muito bem, lá
|
vamos nós, e nem pensem em fugir agora, será pior
|
para vocês se fizerem isso.
|
Eles caminharam pela propriedade às escutas.
|
Neville não parava de fungar. Harry ficou imaginando
|
qual seria o castigo. Devia ser alguma coisa realmente
|
horrível, ou Filch não pareceria tão contente.
|
A lua brilhava, mas as nuvens que passavam por
|
ela lançava-os na escuridão. A frente, Harry via
as
janelas iluminadas da cabana de Hagrid. Então,
|
ouviram um grito distante.
|
- É você, Filch? Ande logo, quero começar de a
|
vez.
|
O ânimo de Harry melhorou; se eles iam
|
trabalhar com Hagrid então não seria tão ruim. Seu
|
alivio deve ter transparecido no tosto, porque Filch
|
falou:
|
- Acho que você está pensando que vai se divertir
|
com aquele panaca? Pois pode pensar outra vez,
|
menino. É para a floresta que você vai e estarei muito
|
enganado se voltar inteiro.
|
Ao ouvir isso, Neville deixou escapar um gemido
|
e Malfoy ficou paralisado.
|
A floresta? - repetiu e não pareceu tão tranqüilo
|
como de costume. - Não podemos entrar lá à
|
noite...
|
tem todo tipo de coisa lá.. lobisomens, ouvi falar.
|
Neville agarrou a manga das vestes de Harry e
|
pareceu se engasgar.
|
- Isto é o que pensa, não é? - disse Filch, a voz
|
esganiçando-se de satisfação. - Devia ter pensado nos
|
lobisomens antes de se meterem encrencas, não acha?
|
Hagrid saiu do escuro caminhando em direção a
|
eles, com Canino nos calcanhares. Carregava um
|
grande arco e uma aljava com flechas pendurada ao
|
ombro.
|
- Até que enfim. já estou esperando há meia hora.
|
Tudo bem, Harry; Hermione?
|
- Eu não seria tão simpático com eles, Hagrid -
|
disse Filch com frieza - , afinal eles estão aqui para
|
serem castigados.
|
- E por isso que você está atrasado, não é? - disse
|
Hagrid, amarrando a cara. - Andou passando carão
|
neles, não é? isso não e sua função. Você fez a sua
|
parte, eu pego daqui para a frente.
|
- Volto ao amanhecer para recolher o que sobrar
|
deles - disse Filch maldoso, deu meia-volta e
retornouao
castelo, balançando a lanterna na escuridão.
Malfoy virou-se então para. Hagrid.
|
- Não vou entrar nessa floresta - disse, e Harry
|
ficou contente de ouvir a nota de pânico em sua voz.
|
- Vai, sim, se quiser continuar em Hogwarts -
|
disse Hagrid com ferocidade. - Você agiu mal e agora
|
tem de pagar pelo que fez...
|
- Mas isso é coisa para empregados e não para
|
estudantes. Achei que íamos fazer uma cópia ou outra
|
coisa do gênero, se meu pai souber que eu estou
|
fazendo isso, ele...
|
- ...lhe dirá que em Hogwarts é assim - rosnou
|
Hagrid. - Fazer cópia! Para que serve? Você vai fazer
|
uma coisa útil ou vai sair da escola. E se pensa que
seu
|
pai vai preferir que você seja expulso, então volte
para
|
o castelo e faça suas malas. Vamos!
|
Malfoy não se mexeu. Encarou Hagrid furioso e
|
em seguida baixou os olhos.
|
- Muito bem, então - disse Hagrid - ,agora
|
prestem atenção, porque é perigoso o que vamos fazer
|
hoje à noite e não quero ninguém se arriscando.
|
Venham até aqui comigo.
|
Ele os conduziu à orla da floresta. Erguendo a
|
lanterna bem alto, apontou para uma trilha serpeante
de
|
terra batida que desaparecia por entre árvores
escuras.
|
Uma brisa leve levantou os cabelos dos meninos,
|
quando eles se viraram para a floresta.
|
- Olhem ali, estão vendo aquela coisa brilhando
|
no chão? Prateada? Aquilo é sangue de unicórnio. Tem
|
um unicórnio ali que foi ferido gravemente por alguma
|
coisa. E a segunda vez esta semana. Encontrei um
|
morto na quarta-feira passada. Vimos tentar encontrar
o
|
pobrezinho. Talvez a gente precise pôr fim ao
|
sofrimento dele.
|
- E se a coisa que feriu o unicórnio nos encontrar
|
primeiro? - perguntou Malfoy, incapaz de conter o
|
medo na voz.
- Não há nenhuma criatura viva na floresta que vá
|
machucá-lo se você estiver comigo e com o Canino. E
|
siga a trilha. Muito bem, agora, vamos nos separar em
|
dois grupos e seguir a trilha em direções opostas. Tem
|
sangue por toda parte, ele deve estar cambaleando pelo
|
menos desde a noite passada.
|
- Eu quero Canino - disse Malfoy depressa,
|
olhando para as presas de Canino.
|
- Muito bem, mas vou-lhe avisando, ele é
|
covarde. Então eu, Harry e Hermione vamos por aqui e
|
Drago, Neville e Canino por ali. Agora, se algum de
|
nós achar o unicórnio, disparamos centelhas verdes
|
pata o alto, 0K? Peguem as varinhas e comecem a
|
praticar agora, assim. E se alguém se enrolar, dispare
|
centelhas vermelhas, e vamos todos procurá-lo; então,
|
cuidado. Vamos.
|
A floresta estava escura e silenciosa. Entrando
|
por ela, chegaram a uma bifurcação, e Harry, Hermione
|
e Hagrid tomaram o caminho da esquerda enquanto
|
Malfoy, Neville e Canino tomaram o da direita.
|
Caminharam em silêncio, com os olhos no chão.
|
Aqui e ali um raio de luar penetrava por entre os
galhos
|
e iluminava uma mancha de sangue prateado nas folhas
|
caídas.
|
Harry viu que Hagrid parecia muito preocupado.
|
- É possível
|
um lobisomem estar matando os
|
unicórnios? Perguntou?
|
- Não com essa rapidez, não é fácil matar um
|
unicórnio, eles são criaturas mágicas poderosas. Nunca
|
soube de nenhum ter sido ferido antes
|
Passaram por um toco de árvore coberto de
|
musgo. Harry ou viu água correndo, devia haver um
|
riacho por perto. Ainda viam manchas de sangue de
|
unicórnio aqui e ali pela trilha serpeante.
|
- Você está bem, Hermione? - sussurrou Hagrid -
|
Não se preocupe, ele não pode ter ido longe se está
tão
|
ferido e então poderemos,.. PARA TRÁS DAQUELA
|
ARVORE!
|
Hagrid agarrou Harry e Hermione e guindou-os
|
para fora da trilha e para trás de um enorme carvalho.
|
Puxou uma flecha e encaixou-a no arco, e ergueu-o,
|
pronto para atirar. Os três apuraram os ouvidos.
|
Alguma coisa deslizava pelas folhas mortas ali perto;
|
parecia uma capa arrastando no chão. Hagrid apertava
|
os olhos para enxergar a trilha escura à frente, mas,
|
passados alguns segundos, o ruído desapareceu.
|
- Eu sabia - murmurou ele. - Tem alguma coisa
|
aqui que está fora de lugar,
|
- Um lobisomem? - sugeriu Harry
|
- Isso não era um lobisomem e não era um
|
unicórnio, tão pouco - disse Hagrid sério. - Muito
bem,
|
me sigam, mas tenham cuidado, agora.
|
Continuaram a caminhar mais devagar, os
|
ouvidos à escuta do menor ruído. De repente,
alguma
coisa na clareira adiante, alguma coisa sem dúvida se
|
mexia.
|
- Quem está ai? - chamou Hagrid. - Apareça.
|
Estou armado! E na clareira apareceu um vulto - era
|
um homem, ou um cavalo? Até a cintura, um homem,
|
com cabelos e barba vermelhos, mas da cintura para
|
baixo era um luzidio cavalo castanho com uma cauda
|
longa e avermelhada. Os queixos de Harry e Hermione
|
caíram.
|
- Ali, é você, Ronan - exclamou Hagrid aliviado.
|
- Como vai?
|
Ele se adiantou e apertou a mão do centauro.
|
- Boa noite para você, Hagrid - disse Ronan.
|
Tinha uma voz grave e triste. - Você ia atirar em mim?
|
-
|
Cautela nunca é demais,
|
Ronan
|
disse Hagrid,
|
dando uma palmadinha no arco.
|
-
|
Tem alguma coisa
|
à
|
solta
|
nesta
|
floresta. Ah, sim, estes são Harry Potter
|
e
|
Hermione Granger. Alunos lá da escola. E este é
|
Ronan. E um centauro.
- Já percebi disse Hermione coma voz fraca.
|
Boa noite - cumprimentou Ronan - São alunos, é?
|
E aprendem muita coisa na escola?
|
- Hum.
|
-
|
Um
|
pouquinho - respondeu Hermione tímida.
|
- Um pouquinho. Bom, já é alguma coisa -
|
suspirou Ronan. Depois, jogou a cabeça para trás e
|
contemplou o céu. - Marte está brilhante hoje.
|
- É - disse Hagrid, mirando o céu também. -
|
Olhe, foi bom termos nos encontrado, Ronan, porque
|
tem um unicórnio ferido. Você viu alguma coisa?
|
Ronan não respondeu imediatamente. Continuou
|
a olhar para o alto sem piscar e então suspirou outra
|
vez.
|
- Os inocentes são sempre as primeiras vitimas.
|
Foi assim no passado, é assim agora.
|
- E, mas você viu alguma coisa, Ronan? Alguma
|
coisa anormal?
|
- Marte está brilhante hoje - repetiu Ronan
|
enquanto Hagrid o observava impaciente. - Um brilho
|
anormal.
|
- Sim, mas estou me referindo a alguma coisa
|
mais perto da terra. Você não notou nada estranho?
|
Mais urna vez, Ronan levou algum tempo para
|
responder. Por fim disse:
|
- A floresta esconde muitos segredos.
|
Um movimento nas árvores atrás de Ronan fez
Hagrid erguer o arco outra vez, mas era apenas um
|
segundo centauro, de cabe-los e corpo negros e de
|
aspecto mais selvagem do que Ronan.
|
- Olá, Agouro - cumprimentou Hagrid. - Tudo
|
bem?
|
- Boa noite, Hagrid, você vai bem, espero.
|
- Bastante bem. Olhe, eu estava mesmo
|
perguntando a Ronan, você viu alguma coisa estranha
|
por aqui ultimamente? É que um unicórnio foi
ferido.
Você sabe alguma coisa?
|
Agouro foi se postar ao lado de Ronan. Olhou
|
para o céu.
|
- Marte está brilhante hoje - disse simplesmente.
|
- Já sabemos - respondeu Hagrid agastado. -
|
Bom, se um de vocês vir alguma coisa, me avise, por
|
favor. Vamos indo, então.
|
Harry e Hermione saíram com ele da clareira,
|
espiando Ronan e Agouro por cima dos ombros até as
|
árvores tamparem sua visão.
|
- Nunca - disse Hagrid irritado - tentem obter
|
uma resposta direta de um centauro. Vivem
|
contemplando as estrelas. Não estão interessados em
|
nada que esteja mais perto do que a lua.
|
- E tem muitos
|
deles
|
aqui? - perguntou Hermione
|
- Ah, um bom numero... Vivem isolados na maior
|
parte do tempo, mas têm a bondade de aparecer quando
|
preciso dar uma palavrinha. São inteligentes, veja
bem,
|
os centauros... sabem das coisas... só não falam
muito.
|
- Você acha que foi um centauro que ouvimos
|
antes? - disse Harry..
|
- Você achou que era barulho de cascos? Não, se
|
quer saber, aquilo é o que anda matando os unicórnios.
|
Nunca ouvi nada parecido antes.
|
E continuaram a caminhar pela floresta densa e
|
escura. Harry não parava de espiar, nervoso, por cima
|
do ombro. Tinha a sensação ruim de que alguém os
|
observava. Estava contente que tivessem Hagrid e seu
|
arco com eles. Acabavam de passar uma curva na trilha
|
quando Hermione agarrou o braço de Hagrid.
|
- Rúbeo! Olhe! centelhas vermelhas, os outros
|
estão em apuros!
|
- Vocês dois esperem aqui! - gritou Hagrid -
|
Fiquem na trilha, volto para apanhá-los!
|
Eles o ouviram romper o mato e ficaram parados
|
se entreolhando, muito assustados, até não conseguirem
|
ouvir mais nada a volta exceto o farfalhar das
árvores.
|
- Você acha que eles estão machucados? -
|
sussurrou Hermione.
|
- Não me importo com Malfoy mas se alguma
|
coisa pegou Neville... É culpa nossa que ele esteja
aqui.
|
Os minutos se arrastaram. Seus ouvidos pareciam
|
mais aguçados do que o normal. Harry parecia estar
|
registrando cada suspiro do vento, cada graveto que
|
quebrava. O que estava acontecendo? Onde estavam os
|
outros?
|
Finalmente, um grande barulho de mato pisado
|
anunciou a volta de Hagrid. Malfoy, Neville e Canino o
|
acompanhavam. Hagrid vinha danado da vida. Malfoy;
|
ao que parecia, se atrasara e agarrara Neville por
trás
|
para lhe dar um susta Neville se assustara e mandara o
|
sinal.
|
- Teremos sorte se apanharmos alguma coisa
|
agora, com a barulheira que vocês aprontaram. Muito
|
bem, vamos trocar os grupos: Neville, você e Hermione
|
ficam comigo; Harry; você com o Canino e esse idiota.
|
Sinto muito - acrescentou Hagrid para Harry num
|
cochicho - mas vai ser mais difícil ele assustar você
e
|
precisamos acabar o nosso serviço.
|
Então Harry entrou pelo coração da floresta com
|
Malfoy e Canino. Andaram quase meia hora,
|
embrenhando-se cada vez mais, até que a trilha se
|
tornou impraticável porque as árvores cresciam
|
demasiado juntas., Havia salpicos nas raízes de uma
|
árvore, como se o pobre bicho tivesse se debatido de
|
dor por ali. Harry viu uma clareira adiante, através
dos
|
galhos emaranhados de um velho carvalho.
|
- Olhe... - murmurou, erguendo o braço para
|
deter Malfoy.
|
Alguma coisa muito branca brilhava no chão.
|
Eles se aproximaram aos poucos.
|
Era o unicórnio, sim, e estava morto. Harry
nunca
vira nada tão bonito nem tão triste. As pernas longas
e
|
finas estavam esticadas em ângulos estranhos onde ele
|
caíra e sua crina espalhava-se nacarada sobre as
folhas
|
escuras.
|
Harry dera um passo à frente mas um som
|
de algo que deslizava o fez congelar onde
|
estava. Uma moita na orla da clareira
|
estremeceu... Então, do meio das sombras
|
saiu um vulto encapuzado que se arrastava
|
de gatas pelo chão como uma fera à caça.
|
Harry, Malfoy e Canino ficaram paralisados.
|
O vulto encapuzado aproximou-se do
|
unicórnio, abaixou a cabeça sobre ferimento
|
no flanco do animal e começou a beber o
|
seu sangue.
|
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
|
Malfoy soltou um grito terrível e fugiu, seguido
|
por Canino. A figura encapuzada ergueu a cabeça e
|
olhou diretamente para Harry - o sangue do unicórnio
|
escorrendo pelo peito. Ficou de pé e avançou rápido
|
para Harry - que não conseguiu se mexer de medo.
|
Então uma dor; como ele nunca sentira antes,
|
varou sua cabeça, como se a sua cicatriz estivesse em
|
fogo - meio cego, ele recuou cambaleando. Ouviu
|
cascos as suas costas, galopando, e aí alguma coisa
|
saltou por cima dele, e atacou o vulto.
|
A dor na cabeça de Harry foi tão forte que ele
|
caiu de joelhos. Levou uns dois minutos para passar
|
Quando ergueu os olhos, o vulto desaparecera. Um
|
centauro avultava-se sobre ele, mas não era Ronan nem
|
Agouro; este parecia mais novo, tinha cabelos louros
|
prateados e o corpo baio.
|
- Você está bem? - perguntou o centauro,
|
ajudando Harry a se levantar.
|
- Estou, obrigado, o que
|
foi
|
aquilo?
|
O centauro não respondeu. Tinha espantosos
|
olhos azuis, como safiras muito claras. Mirou
Harry
com atenção, demorando o olhar na cicatriz que se
|
sobressaia, lívida, em sua testa.
|
- Você é o menino Potter E melhor voltar para a
|
companhia de Hagrid. A floresta não é segura a estas
|
horas, principalmente para você. Sabe montar? Será
|
mais rápido. Meu nome é Firenze - acrescentou ao
|
dobrar as patas dianteiras para Harry poder subir no
seu
|
lombo.
|
Ouviram repentinamente o ruído de galopes
|
vindo do outro lado da clareira. Ronan e Agouro
|
irromperam do meio das árvores, os flancos arfantes e
|
suados.
|
- Firenze! - Agouro trovejou. - O que é que você
|
está fazendo? Está carregando um humano! Não tem
|
vergonha? Você é uma mula?
|
- Você sabe quem ele é? - retrucou Firenze - E o
|
menino Potter. Quanto mais rápido ele sair da
floresta,
|
melhor.
|
- O que é que você andou contando a ele? -
rosnou Agouro.
|
- Lembre-se, Firenze, juramos nunca
|
nos indispor com os céus. Você não leu o
|
que vai acontecer nos movimentos dos
|
planetas?
|
Ronan pateou o chão, nervoso.
|
Tenho certeza de que Firenze achou que estava
|
fazendo o melhor - falou em tom sombrio.
|
Agouro escoiceou com raiva.
|
- Fazendo o melhor! O que tem isso a ver conosco?
|
Os centauros se preocupam com o que foi previsto!
|
Não é nossa função ficar correndo por ai como
|
jumentos recolhendo humanos perdidos na nossa
|
floresta!
|
Firenze de repente empinou-se nas patas traseiras
|
com raiva, de modo que Harry teve de se agarrar nos
|
seus ombros para não cair.
|
- Você não viu o unicórnio! - Firenze berrou para
|
Agouro. - Você não percebe por que foi morto? Ou
será que os planetas não lhe contaram esse segredo?
|
Tomei posição contra o que está rondando a floresta,
|
Agouro, tomei, sim, ao lado dos humanos se for
|
preciso.
|
E Firenze virou-se depressa para partir; com Harry
|
agarrando-se o melhor que podia, eles mergulharam
|
entre as árvores, deixando Ronan e Agouro para trás.
|
E Harry não fazia a menor idéia do que estava
|
acontecendo.
|
- Por que Agouro está tão zangado? - perguntou. -
|
O que era aquela coisa de que você me livrou?
|
Firenze abrandou a marcha, alertou Harry para
|
manter a cabeça abaixada a fim de evitar os galhos
|
baixos, mas não respondeu à pergunta. Continuaram
|
por entre as árvores em silêncio por tanto tempo que
|
Harry achou que Firenze não queria mais falar com ele.
|
Estavam passando por um trecho particularmente denso
|
da floresta, quando Firenze parou de repente.
|
- Harry Potter, você sabe para que se usa o sangue
|
de unicórnio?
|
- Não - disse Harry surpreendido pela estranha
|
pergunta. - Só usamos o chifre e a cauda na aula de
|
Poções.
|
- Porque é uma coisa monstruosa matar um
|
unicórnio. Só alguém que não tem nada a perder e tudo
|
a ganhar cometeria um crime desses. O sangue do
|
unicórnio mantém a pessoa viva, mesmo quando ela
|
está à beira da morte, mas a um preço terrível Ela
|
matou algo puro e indefeso para se salvar e só terá
uma
|
semivida, uma vida amaldiçoada, do momento que o
|
sangue lhe tocar os lábios.
|
Harry ficou olhando para a nuca de Firenze, que
|
estava prateada de luar.
|
- Mas quem estaria tão desesperado? - pensou em
|
voz alta Se a pessoa vai ser amaldiçoada para sempre,
é
|
preferível morrer, não é?
|
- É - concordou Firenze -, a não ser que ela
|
precise se manter viva o tempo suficiente para beber
|
outra coisa, algo que vai lhe devolver a força e o
poder
|
totais, algo que significa que jamais poderá morrer.
Sr.
|
Potter, o senhor sabe o que é que está escondido na
sua
|
escola neste momento?
|
- A Pedra Filosofal! É claro, o elixir da vida! Mas
|
não percebo quem...
|
- Não consegue pensar em ninguém que tenha
|
esperado muitos anos para retomar o poder, que se
|
apegou à vida, esperando uma chance?
|
Foi como se uma mão de ferro de repente
|
apertasse o coração de Harry. Acima do farfalhar das
|
árvores, ele parecia ouvir mais urna vez o que Hagrid
|
lhe contara na noite que se conheceram: "Uns
dizem
|
que ele morreu. Bobagem, na minha opinião. Não sei
|
se ele ainda teria bastante humanidade para
morrer"
|
- Você está dizendo - Harry falou rouco - que
|
aquele era o
|
Vol..
|
- Harry! Harry, você está bem?
|
Hermione vinha correndo ao encontro deles pela
|
trilha, Hagrid a acompanhava arfando.
|
- Estou bem - disse Harry, sem nem saber o que
|
estava dizendo. - O unicórnio morreu, Rúbeo, está
|
naquela clareira lá atrás.
|
- É aqui que eu o deixo - murmurou Firenze
|
enquanto Hagrid corria para examinar o unicórnio. -
|
Está seguro agora.
|
Harry escorregou de suas costas.
|
- Boa sorte, Harry Potter - disse Firenze. - Os
|
planetas já foram mal interpretados antes, até mesmo
|
pelos centauros. Espero que seja o que está ocorrendo
|
agora.
|
Virou-se e entrou a trote pela floresta, deixando
|
para trás um Harry cheio de tremores.
|
Rony adormecera no salão comunal ás escuras,
|
esperando os amigos voltarem. Gritou alguma coisa
|
sobre faltas no quadribol,
|
Quando Harry o sacudiu com força para acordá-lo. Em
|
questão de segundos, porém, seus olhos se arregalaram
|
quando Harry começou a contar a ele e à Hermione o
|
que acontecera na floresta.
|
Harry nem conseguia se sentar. Andava para
|
cima e para baixo na frente da lareira. Continuava a
|
tremer.
|
Snape quer a pedra para Voldemort...e Voldemort
|
está esperando na floresta... e todo esse tempo
|
pensamos que Snape só queria ficar rico.
|
- Pare de repetir esse nome! - disse Rony num
|
sussurro de terror como se Voldemort pudesse ouvi-los.
|
Harry nem o escutou.
|
- Firenze me salvou, mas não devia ter feito isso.
|
Agouro ficou furioso... falou de interferência naquilo
|
que os planetas anunciaram que ia acontecer Eles
|
devem estar indicando que Voldemort vai voltar.
|
Agouro acha que Firenze devia ter deixado Voldemort
|
me matar. Imagino que isso também esteja escrito nas
|
estrelas.
|
- Quer parar de dizer esse nome!-
|
sibilou Rony.
|
- Portanto só preciso esperar que Snape roube a
|
pedra - continuou Harry febril -, então Voldemort vai
|
poder voltar e acabar comigo. Bem, quem sabe Agouro
|
vai ficar feliz.
|
Hermione parecia muito assustada, mas teve uma
|
palavra de consolo.
|
- Harry; todo mundo diz que Dumbledore é a
|
única pessoa de quem Você-Sabe-Quem já teve medo.
|
Com Dumbledore por perto Você-Sabe-Quem não vai
|
tocar em você. Em todo o caso, quem disse que os
|
centauros têm razão? Isso está me parecendo
|
adivinhação, e a Profa. Minerva diz que adivinhar o
|
futuro é um ramo muito inexato da magia.
|
O céu havia clareado antes de terminarem de
|
conversar Foram se deitar exaustos, com as gargantas
|
ardendo. Mas as surpresas da noite não tinham
|
terminado.
|
Quando Harry puxou os lençóis da cama,
|
encontrou a capa da invisibilidade cuidadosamente
|
dobrada sobre o forro. Tinha um bilhete espetado nela:
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário