terça-feira, 28 de agosto de 2012

Harry Potter .. E a Pedra Filosofal ( Cap XII )


CAPÍTULO DOZE -
O
Espelho de Ojesed
O Natal se aproximava. Certa manhã em meados de
dezembro, Hogwarts acordou coberta com mais de um
metro de neve. O lago congelou e os gêmeos Weasley
receberam castigo por terem enfeitiçado várias bolas de
neve fazendo-as seguir Quirrell aonde ele ia e quicarem
na parte de trás do seu turbante. As poucas corujas que
conseguiam se orientar no céu tempestuoso para
entregar correspondência tinham de ser tratadas por
Hagrid para recuperar a saúde antes de voltarem a voar
Todos mal agüentavam esperar as férias de Natal. E
embora a sala comunal da
Grifinória
e o salão principal
tivessem grandes fogos nas lareiras, os corredores
varridos por correntes de ar tinham se tornado gélidos e
um vento cortante sacudia as janelas das salas de aulas.
As piores eram as aulas do Prol Snape nas masmorras,
onde a respiração dos alunos virava uma névoa diante
deles e eles procuravam ficar o mais próximo possível
dos seus caldeirões.
- Tenho tanta pena - disse Drago Malfoy; na aula de
Poções.
- dessas pessoas que têm que passar o Natal em Hogwarts
porque a família não as querem casa.
Olhou para Harry ao dizer isso. Crabbe e Goyle
tiram. Harry; que estava medindo pó de espinha de
peixe-leão, não lhes deu atenção. Malfoy andava muito

mais desagradável do que de costume desde a partida
de quadribol. Aborrecido porque Sonserina perdera,
tentara fazer as pessoas rirem dizendo que um sapo iria
substituir Harry como apanhador no próximo jogo.
Então percebeu que ninguém achara graça, porque
estavam todos muito impressionados com a maneira
com que Harry conseguira se segurar na vassoura
corcoveante. Por isso Drago, invejoso e zangado,
voltara a aperrear Harry dizendo que não tinha família
como os outros...
Era verdade que Harry não ia voltar à rua dos
Alfeneiros para o Natal. A Profa. Minerva passara a
semana anterior fazendo uma lista dos alunos que iam
ficar em Hogwarts no Natal e Harry assinara seu nome
na mesma hora. Não sentia nenhuma pena de si
mesmo; provavelmente aquele seria o melhor Natal que
já tivera. Rony e os irmãos também iam ficar, porque o
Sr e a Sra. Weasley iam à Romênia visitar Carlinhos.
Quando deixaram as masmorras ao final da aula de
Poções, encontraram um grande tronco de pinheiro
bloqueando o corredor à frente. Dois pés enormes que
apareciam por baixo do tronco e alguém bufando alto
denunciou a todos que Hagrid estava por trás dele.
Oi, Rúbeo quer ajuda? - perguntou Rony; metendo
a cabeça por entre os ramos.
- Não, estou bem, obrigado, Rony.
- Você se importaria de sair do caminho? - ouviuse
a voz arrastada e seca de Drago atrás deles. - Está
tentando ganhar uns trocadinhos, Weasley? Vai ver
quer virar guarda-caça quando terminar Hogwarts. A
cabana de Rúbeo deve parecer um palácio comparada
ao que sua família está acostumada.
Rony avançou para Drago justamente na hora em
que Snape subia as escadas.
Rony largou a frente das vestes de Drago.
- Ele foi provocado, Prof. Snape - explicou Hagrid,
deixando aparecer por trás da árvore a cara peluda. -
Drago ofendeu a família dele.
- Seja por que for, brigar é contra o regulamento de
Hogwarts, Hagrid - disse Snape insinuante. - Cinco
pontos a menos para Grifinória, Weasley; e dê graças a
Deus por não ser mais. Agora, vamos andando, todos
vocês.
Drago, Crabbe e Goyle passaram pela arvore com
brutalidade, espalhando folhas para todo lado com
sorrisos nos rostos.
- Eu pego ele - prometeu Rony, rilhando os dentes
as costas de Drago -, um dia desses, eu pego ele.
- Odeio os dois - disse Harry - Drago e Snape.
- Vamos, ânimo, o Natal está ai - disse Hagrid - Vou lhes
dizer o que vamos fazer, venham comigo ver o salão
principal, está lindo.
Então os três acompanharam Hagrid e sua árvore
até o salão principal, onde a Profa. Minerva e o Prol
Flitwick estavam trabalhando na decoração para o
Natal
- Ah, Hagrid, a ultima árvore - ponha naquele canto ali,
por favor.
O salão estava espetacular. Festões de azevinho e
visco pendurados a toda a volta das paredes e nada
menos que doze enormes arvores de Natal estavam
dispostas pelo salão, umas cintilando com cristais de
neve, outras iluminadas por centenas de velas.
- Quantos dias ainda faltam até as férias? -
perguntou Hagrid.
- Um - respondeu Hermione - Ah, isso me lembra:
Harry; Rony; falta meia hora para o almoço
devíamos
,
estar na biblioteca.
- Ih, é mesmo - disse Rony; despregando os olhos
do Prof. Flitwick, que fazia sair bolhas azuis da ponta
da varinha e as levava para cima dos galhos da árvore
que acabara de chegar.
- Biblioteca? - espantou-se Hagrid, acompanhando-os
para fora da sala - Na véspera das férias? Não estão
estudando demais?
- Ah, não estamos estudando respondeu Harry, animado.
- Desde que você mencionou o Nicolau Flamel estamos
tentando descobrir quem ele é.
- Vocês o quê? Hagrid parecia chocado. - Ouçam aqui: já
disse a vocês, parem com isso. Não é da sua conta o
que o cachorro esta guardando.
- Só queremos saber quem é Nicolau Flamel, só isso -
falou Hermione.
- A não ser que você queira nos dizer e nos
poupar o trabalho? - acrescentou Harry. - Já devemos
ter consultado uns cem livros e não o encontramos em
lugar nenhum. Que tal nos dar uma pista? Sei que já lio
nome dele em algum lugar.
- Não digo uma palavra - respondeu Hagrid
decidido.
- Então vamos ter que descobrir sozinhos - disse
Rony, e saíram depressa para a biblioteca, deixando
Hagrid desapontado.
Andavam realmente procurando o nome de Flamel
nos livros desde que Hagrid deixara escapá-lo, porque
de que outra maneira iam descobrir o que Snape estava
tentando roubar? O problema é que era muito difícil
saber por onde começar, sem saber o que Flamel
poderia ter feito para aparecerem um livro. Não se
encontrava em
Grandes sábios do século,
nem em
Nomes notáveis da mágica do nosso tempo,
não era
encontrável tampouco em
Importantes descobertas
modernas da mata
nem em
Um estudo aos avanços
recentes na magia.
E, é claro, havia também o tamanho
da biblioteca em si, dezenas de milhares de livros;
milhares de prateleiras; centenas de corredores
estreitos.
Hermione puxou uma lista de assuntos e títulos
que decidira pesquisar enquanto Rony se dirigiu a uma
carreira de livros e começou a tirá-los da prateleira
aleatoriamente. Harry vagou até a Seção Reservada.
Vinha pensando há algum tempo se Flamel não estaria
ali. Infelizmente, o estudante precisava de um bilhete
assinado por um professor para consultar qualquer livro
reservado e ele sabia que nenhum jamais lhe daria o
bilhete.
Eram livros que continham poderosa magia negra
jamais ensinada em Hogwarts e somente lida por
alunos mais velhos que estudavam no curso avançado
de Defesa Contra a Magia Negra.
- O que é que você está procurando, menino?
- Nada - disse Harry.
Madame Pince, a bibliotecária, apontou-lhe um
espanador de penas.
- Então é melhor sair daqui. Vamos, fora!
Desejando ter sido um pouco mais rápido em
inventar alguma história, Harry saiu da biblioteca. Ele,
Rony e Hermione já tinham concordado que era melhor
não perguntar a Madame Pince onde poderiam
encontrar Flamel. Tinham certeza de que ela saberia
informar, mas não podiam arriscar que Snape ouvisse o
que andavam tramando.
Harry esperou do lado de fora no corredor para
saber se os outros dois tinham encontrado alguma
coisa, mas não alimentava muitas esperanças. Afinal
estavam procurando havia quinze dias, mas como só
tinham breves momentos entre as aulas não era
surpresa que não tivessem achado nada O que
realmente precisavam era de uma longa busca sem
Madame Pince bafejar o pescoço deles.
Cinco minutos depois, Rony e Hermione se
reuniram a ele balançando negativamente a cabeça. E
foram almoçar.
- Vocês vão continuar procurando enquanto eu
estiver fora, não vão? - recomendou Hermione. - E me
mandem uma coruja se encontrarem alguma coisa.
- E você poderia perguntar aos seus pais se sabem
quem é Flamel - disse Rony. - Não haveria perigo em
perguntar a eles.
- Nenhum Perigo, os dois são dentistas.
Uma vez começadas as férias, Rony e Harry estavam se
divertindo à beça para se lembrar de Flamel. Tinham o
dormitório só para eles e a sala comunal estava muito
mais vazia do que o normal, por isso podiam usar as
poltronas confortáveis ao pé da lareira. Sentavam-se a
toda hora para comer tudo que pudessem espetar em
um garfo de assar - pão, bolinhos,
marshmallows-
e
tramavam maneiras de fazer Drago ser expulso, o que
se divertiam em discutir mesmo que não fosse produzir
resultados.
Rony também começou a ensinar Harry a jogar xadrez
de bruxa Era exatamente igual a xadrez de trouxa
exceto que as peças eram vivas, o que fazia parecer que
a pessoa estava dirigindo tropas em uma batalha. O
jogo de Rony era muito velho e gasta como tudo o mais
que possuía, pertencera em tempos a alguém da família
- no caso, ao seu avô. No entanto, a velhice das peças
não era um empecilho. Rony as conhecia tão bem. que
nunca tinha dificuldade de mandá-las fazer o que ele
queria.
Harry jogava com peças que Simas Finnigan lhe
emprestara e estas não confiavam nada nele. Ainda não
era um bom jogador e elas não paravam de gritar
conselhos variados, o que o confundia:
"Não me mande para lá, não está vendo o cavalo dele?
Mande
ele
, podemos nos dar ao luxo de perder
ele
."
Na noite de Natal, Harry foi para a cama pensando com
ansiedade na comida e na diversão do dia seguinte, mas
sem esperar nenhum presente.
Quando acordou cedo na manhã seguinte, porém, a
primeira coisa que viu foi uma pequena pilha de
embrulhos ao pé de sua cama.
Natal- disse Rony sonolento quando Harry pulou da cama e
vestiu o roupão.
você também - falou Harry. - Olhe só isso! Ganhei presentes?
que é que você esperava, nabos? - respondeu Rony, virando-se
para a sua pilha que era bem maior do que a de Harry
apanhou o pacote de cima. Estava embrulhado em papel pardo
grosso e trazia escrito em garranchos P
ara o Harry,
de
Hagrid.
Dentro havia uma flauta tosca de madeira. Era
óbvio que Hagrid a entalhara pessoalmente. Harry
soprou-a - parecia um pouco com um pio de coruja.
gundo embrulho, muito pequeno, continha um bilhete.
Recebemos sua mensagem
e
estamos enviando o seu
presente. Tio Válter e Tia Petúnia.
Presa com fita
adesiva na nota havia uma moeda de cinqüenta pence.
- Que simpático! - exclamou Harry.
Rony ficou fascinado pela moeda de cinqüenta
pence.
- Que esquisito! - disse. - Que formato! Isso é
dinheiro?
- Pode ficar com ela - disse Harry rindo-se ao ver
a satisfação de Rony - Rúbeo, minha tia e meu tio. E
quem mandou esses?
- Acho que sei quem mandou esse - disse Rony,
ficando um pouco vermelho e apontando para um
embrulho disforme. - Mamãe. Eu disse a ela que você
não estava esperando receber presentes... ah, não... -
gemeu -, ela fez para você uma suéter Weasley.
Harry rasgou o papel e encontrou uma suéter
tricotada com linha grossa verde-clara e uma grande
caixa de barras de chocolate feito em casa.
- Todos os anos ela faz para nós uma suéter - disse
Rony, desembrulhando a dele -, e a minha é
sempre
cor
de tijolo.
- Foi realmente muita gentileza dela - disse Harry;
experimentando as barrinhas de chocolate, que estavam
muito gostosas.
sente seguinte também continha doces - uma grande caixa de
sapos de chocolate dados por Hermione.
a apenas um embrulho. Harry apanhou-o e apalpou-o. Era
muito leve. Desembrulhou-o
coisa sedosa e prateada escorregou para o chão onde se
acomodou em dobras refulgentes. Rony soltou uma
exclamação:
uvi falar nisso - disse em voz baixa, deixando cair a caixa de
feijõezinhos de todos os sabores que ganhara de
Hermione. - Se isso é o que eu penso que é, é realmente
raro e
realmente
valioso.
- E o que é?
Harry apanhou o pano brilhoso e prateado do chão.
Tinha uma textura estranha, parecia tecida com fios de
água.
- E uma capa da invisibilidade - disse Rony, com
uma expressão de assombro no tosto. - Tenho certeza de que
é. Experimente.
Harry jogou a capa em volta dos ombros e Rony
deu um berro.
- E, Sim! Olhe para baixo!
Harry olhou para os pés, mas eles tinham
desaparecido. Correu então para o espelho. Não deu
outra, o espelho refletiu sua imagem, só a cabeça
suspensa no ar, o corpo completamente invisível. Ele
cobriu a cabeça e a imagem desapareceu
completamente.
- Tem um cartão! - disse Rony de repente. - Caiu
um cartão! Harry tirou a capa e apanhou o cartão.
Escritas numa caligrafia fina e rebuscada que ele nunca
vira antes, estavam as seguintes palavras:
Seu pai deixou isto comigo antes
de morrer. Está na hora de devolve-la a você.
Use-a bem.
Um Nata/ Muito Feliz para você
Não havia assinatura. Harry ficou olhando o
cartão. Rony admirava a capa.
- Eu daria
qualquer coisa
para ter uma dessas.
Qualquer
coisa...
Que foi?
- Nada. - Harry estava se sentindo muito estranho.
Quem mandara a capa? Será que pertencera mesmo ao
seu pai?
Antes que pudesse dizer ou pensar qualquer outra
coisa, a porta do dormitório se escancarou e Fred e
Jorge Weasley entraram aos pulos. Harry rapidamente
deu um sumiço na capa. Por ora não tinha vontade de
compartilhá-la com mais ninguém.
- Feliz Natal!
- Ei, olhe só, o Harry ganhou uma suéter Weasley
também!
Fred e Jorge estavam usando suéteres azuis, uma com
um grande F, a outra com um J.
- Mas a do Harry é melhor do que a nossa - comentou
Fred, erguendo a suéter de Harry - Ela com certeza
capricha mais se a pessoa não é da família.
- Por que você não está usando a sua? - perguntou
Jorge - Vamos, vista logo, elas são ótimas e quentes.
- Detesto cor de tijolo - lamentou-se Rony; desanimado
enquanto vestia a suéter.
- Pelo menos você não tem uma letra na sua - comentou
Jorge. - Ela deve pensar que você não esquece o seu
nome. Mas nós não somos burros, sabemos que nos
chamamos Jorge e Fred.
- Que barulheira é essa?
Percy Weasley meteu a cabeça para dentro da
porta, com um olhar de censura. Era visível que já
desembrulhara metade dos seus presentes porque trazia
também uma suéter grossa pendurada no braço, que
Fred logo agarrou.
- M de monitor! Vista logo, Percy, todos estamos
usando as nossas, até Harry ganhou uma.
- Eu...não... quero - disse Percy com a voz
embargada, enquanto os gêmeos forçavam a suéter por
sua cabeça, entortando seus óculos.
- E você hoje não vai se sentar com os monitores -
disse Jorge. - Natal é uma festa da família.
E os dois carregaram Percy para fora do quarto,
com os braços presos dos lados pela suéter.
Harry nunca tivera em toda a vida um almoço de Natal
igual àquele. Cem perus gordos assados, montanhas de
batatas assadas e cozidas, travessas de salsichas,
terrinas de ervilhas passadas na manteiga, molheiras
com uva-do-monte em molho espesso e bem temperado
- e, a pequenos intervalos sobre a mesa, pilhas de
bombinhas de bruxo. Essas bombinhas fantásticas não
se pareciam nada com as bombinhas fracas dos trouxas
que os Dursley em geral compravam, cheias de
brinquedinhos de plástico e chapéus de papel fino.
Harry puxou a ponta de uma bombinha de bruxo com
Fred e ela não deu apenas um estalinho, ela explodiu
com o ruído de um canhão e envolveu-os em uma
nuvem de fumaça azul, enquanto caiam de dentro um
chapéu de almirante e vários camundongos brancos,
vivos. Na mesa principal, Dumbledore tinha trocado o
chapéu de bruxo por um. toucado florido e ria
alegremente de trina piada que o Prof. Flitwick acabara
de ler para ele.
Pudins de Natal flamejantes seguiram-se ao peru.
Percy quase quebrou os dentes em uma foice de prata
que estava escondida em sua fatia. Harry observava o
rosto de Hagrid ficar cada vez mais vermelho à medida
que pedia mais vinho e acabou beijando a bochecha da
Profa. Minerva, a quase para espanto de Harry, rira e
corara, o chapéu de bruxa enviesado na cabeça.
Quando Harry finalmente saiu da mesa estava
levando uma montanha de brinquedos das bombinhas,
inclusive uma embalagem de balões luminosos e nãoexplosivos,
um kit para cultivar capixingui, a planta
símbolo de Hogwarts, e um jogo de xadrez de bruxo.
Os camundongos brancos tinham desaparecido e Harry
teve a desagradável sensação de que eles iam acabar
virando jantar de Natal para Madame Nor-r-ra.
Harry e os Weasley passaram urna tarde muito
alegre ocupados em uma furiosa guerra de bolas de
neve. Depois, frios, molhados e ofegantes, voltaram
para junto da lareira na sala comunal de Grifinória,
onde Harry estreou o seu novo jogo de xadrez
perdendo espetacularmente para Rony. Suspeitou que
não teria levado uma surra tão grande se Percy não
tivesse tentado ajudá-lo tanto.
Depois de lancharem sanduíches de peru,
bolinhos, gelatina e bolo de frutas, todos se sentiram
demasiado fartos e sonolentos para fazer outra coisa
senão sentar e assistir a Percy correr atrás de Fred e
Jorge por toda a torre de Grifinória porque eles tinham
furtado seu crachá de monitor
Fora o melhor Natal da vida de Harry. No entanto, no
fundinho da cabeça alguma coisa o incomodara o dia
inteiro. Somente quando finalmente se deitou é que
teve tempo para pensar nela: a capa invisível e a pessoa
que a mandara.
Rony, cheio de peru e bolo e sem nenhum mistério
para perturbá-lo, caiu no sono assim que puxou as
cortinas de sua cama de dossel. Harry debruçou-se pela
borda da cama e puxou a capa que escondera ali.
Do seu pai... aquilo fora do seu pai. Ele deixou o
tecido escorregar pelas mãos, mais macio do que seda,
leve como o ar.
Use-a bem,
dissera o cartão.
Tinha de experimentá-la agora. E saiu da cama e se
enrolou na capa. Olhando para as pernas, viu apenas o
luar e as sombras Era uma sensação muito engraçada.
Use-a bem.
pente, Harry se sentiu completamente acordado. Toda a
Hogwarts se abria para ele com esta capa. Sentiu-se
tomado de excitação em pé ali na escuridão silenciosa.
Podia ir a qualquer lugar com a capa, qualquer lugar, e
Filch jamais saberia.
Rony resmungou adormecido. Será que Harry
devia acordá-lo? Alguma coisa o deteve a capa do seu
pai, sentiu que desta vez - a primeira - queria usá-la
sozinho.
E saiu sorrateiro do dormitório, desceu as escadas,
atravessou a sala comunal e passou pelo buraco do
retrato.
- Quem está aí? - perguntou esganiçada a Mulher
Gorda. Harry não respondeu. Saiu depressa pelo
corredor
Onde deveria ir? Parou, o coração acelerado, e
pensou. E então lhe ocorreu. A seção reservada na
biblioteca. Poderia ler o tempo que quisesse, o tempo
que precisasse para descobrir quem era Flamel. Foi,
então, puxando a capa para bem junto do corpo ao
andar
A biblioteca estava escura como breu e muito
estranha. Harry acendeu uma luz para enxergar o
caminho entre as fileiras de livros
A lâmpada parecia que estava flutuando no ar, e embora
Harry sentisse que seu braço a sustentava, aquela visão
lhe deu arrepios.
A seção reservada era bem no fundo da biblioteca.
Saltando com cautela a corda que separava esses livros
do resto da biblioteca, ele ergueu a lâmpada para ler os
títulos.
Eles não lhe informavam muita coisa. Suas letras
descascadas e esmaecidas formavam dizeres em
línguas que Harry não entendia. Alguns sequer tinham
titulo. Um livro tinha uma mancha escura que fazia
lembrar horrivelmente de sangre. Os pêlos na nuca de
Harry ficaram em pé. Talvez fosse imaginação dele,
talvez não, mas achou que ouvia um sussurro inaudível
vindo dos livros, corno se eles soubessem que havia
alguém ali que não deveria estar.
Precisava começar por alguma parte. Pousando com
cuidado a lâmpada no chão, ele procurou na prateleira
mais baixa um livro que parecesse interessante. Um
grande volume preto e prata chamou sua atenção.
Puxou-o com esforço, porque era muito pesado, e
equilibrando-o nos joelhos, deixou-o abrir ao acaso.
Um grito agudo de coalhar o sangue cortou o
silêncio o livro está gritando! Harry fechou-o depressa,
mas o grito não parou, uma nota alta, continua, de furar
os tímpanos. Ele tropeçou para trás e derrubou a
lâmpada, que se apagou na mesma hora. Em pânico,
ouviu passos que vinham pelo corredor do lado de fora
enfiando o livro gritador de qualquer jeito no lugar, ele
correu para valer Passou por Filch quase a porta. Os
olhos claros e arregalados de Filch atravessaram-no,
Harry escorregou por debaixo dos seus braços
estendidos e saiu desabalado pelo corredor, os gritos do
livro ainda ecoando em seus ouvidos.
Parou subitamente diante de uma alta armadura.
Estivera tão ocupado em fugir da biblioteca que não
prestara atenção aonde estava indo. Talvez porque
estivesse escuro, ele sequer reconheceu onde se
encontrava. Havia urna armadura perto das cozinhas,
ele sabia, mas ele devia estar uns cinco andares acima.
- O senhor me pediu para eu vir direto ao senhor,
professor, se alguém estivesse perambulando durante a
noite e alguém esteve na biblioteca, na seção reservada.
entiu o sangue se esvair do seu rosto. Onde quer que estivesse,
Filch devia conhecer um atalho, porque sua voz baixa e
untuosa estava se aproximando, e para seu horror, foi
Snape quem respondeu:
eção reservada? Bom, eles não podem estar longe, vamos
apanhá-los.
ficou imóvel no lugar em que estava quando Filch e Snape
viraram o canto do corredor à frente. Eles não podiam
vê-lo, é claro, mas era um corredor estreito e se
chegassem mais perto esbarrariam nele - a capa não o
impedia de ser sólido.
Recuou o mais silenciosamente que pôde. Havia
uma porta entreaberta à sua esquerda. Era sua única
esperança. Esgueirou-se por ela, prendendo a
respiração, tentando não empurrá-la e, para seu alívio,
conseguiu entrar no aposento sem que percebessem
nada. Eles passaram direto e Harry apoiou-se na
parede, respirando profundamente, ouvindo os passos
dos dois morrerem a distância. Fora por pouco, por um
triz. Passaram-se alguns segundos até ele reparar em
alguma coisa no aposento em que se escondera.
Parecia uma sala de aula fechada. Os vultos
escuros das mesas e cadeiras se amontoavam contra as
paredes e havia uma cesta de papéis virada - mas
escorada na parede à sua frente havia uma coisa que
não parecia pertencer ao lugar, alguma coisa que
parecia que alguém acabara de pôr ali para tira-la do
caminho.
Era um magnífico espelho, da altura do teto, com
uma moldura de talha dourada, aprumado sobre dois
pés em garra. Havia uma inscrição entalhada no alto:
Ojesed stra ebru oy ube cafru oyr on wohsi.
e do púnico, agora que não ouvia sinal de Filch e Snape, Harry
aproximou-se do espelho querendo mostrar-se sem ver
nenhuma imagem como antes. Adiantou-se para o
espelho.
de levar as mãos à boca para não gritai; Virou-se. Seu coração
batia com muito mais fúria do que quando o livro
gritara -porque não vira somente a própria imagem no
espelho, mas a de uma verdadeira multidão por trás
dele.
Mas o quarto estava vazio. Respirando muito
depressa, ele se virou lentamente para o espelho.
Lá estava ele
refletido, parecendo branco e assustado,
,
e lá estavam, refletidos às suas costas, pelo menos
outras dez pessoas, Harry espiou por cima do ombro
mas continuava a não haver ninguém mais. Ou será que
eram todos invisíveis também? Será que estava de fato
em um aposento cheio de gente invisível e o truque
desse espelho é que ele refletia tudo,
invisível
ou não?
Olhou para o espelho outra vez. Uma mulher
parada logo atrás de sua imagem sorria e lhe acenava.
Ele esticou a mão e sentiu o ar atrás dele. Se ela
estivesse realmente ali, ele a tocaria, pois suas imagens
estavam muito próximas, mas ele pegou apenas ar - ela
e os outros só existiam no espelho.
Era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos acaju e os
olhos
- os olhos são igualzinhos aos meus, Harry pensou,
acercando-se um pouco mais do espelho. Verde-vivo -
exatamente do mesmo formato, mas então reparou que
ela estava chorando, sorrindo, mas chorando ao mesmo
tempo. O homem alto, magro, de cabe-los negros,
parado ao lado dela abraçou-a. Usava óculos e seu
cabelo era muito rebelde. Espetava na parte de trás,
como o de Harry.
Harry estava tão perto do espelho agora que seu nariz
quase encostava em sua imagem.
- Mamãe? - murmurou - Papai?
Eles apenas olharam para ele, sorrindo, e lentamente
Harry olhou para os rostos das outras pessoas no
espelho e viu outros pares de olhos verdes iguais ao
seus, outros narizes como o seu, até mesmo um velhote
que parecia ter os mesmos joelhos ossudos que ele -
Harry estava olhando para sua família, pela primeira
vez na vida.
Os Potter sorriram e acenaram para Harry e ele
retribuiu o olhar carente, as mãos comprimindo o
espelho como se esperasse entrar por dentro dele e
alcançá-los. Sentiu uma dor muito forte no peito, em
que se misturavam a alegria e uma terrível tristeza.
Quanto tempo esteve parado ali, ele não sabia. As
imagens não esmaeceram e ele continuou mirando-as
até que um ruído distante o trouxe de volta ao presente.
Não podia ficar ali, tinha de encontrar o caminho de
volta para a cama. Com esforço, desviou os olhos do
rosto de sua mãe, sussurrando "Eu volto" e saiu
depressa do aposento.
- Você podia ter me acordado falou Rony, aborrecido.
Você pode vir hoje à noite. Vou voltar, quero lhe
mostrar o espelho.
Eu gostaria de ver sua mãe e seu pai - disse Rony, animado.
E eu quero ver toda a sua família, todos os Weasley, você vai
poder me mostrar os seus outros irmãos e todo o
mundo.
ê pode vê-los a qualquer hora. E só vir à minha casa neste verão.
Em todo o caso, talvez o espelho só mostre gente
morta. Mas é uma pena você não ter achado o Flamel.
Coma um pouco de bacon ou outra coisa qualquer, por
que é que você não está comendo nada?
Harry não conseguia comer. Vira os pais e iria vê-los de novo à
noite. Quase se esquecera de Flamel já não lhe parecia
tão importante. Quem ligava para o que o cachorro de
três cabeças estava guardando? Quem ligava realmente
que Snape fosse roubar a coisa?
está bem? - perguntou Rony - Está com uma cara tão estranha
O que Harry mais temia era não conseguir encontrar o
aposento do espelho outra vez. Com Rony coberto pela.
capa também, eles tiveram de andar muito mais
devagar na noite seguinte. Tentaram refazer o caminho
de Harry ao sair da biblioteca, andando a esmo pelos
corredores escuros durante quase uma hora.
- Estou falando - disse Rony; - Vamos esquecer
tudo e voltar
- Não! - sibilou Harry - Sei que é em algum lugar
por aqui.
Passaram pelo fantasma de uma bruxa alta que
deslizava na direção oposta, mas não viram mais
ninguém. Na hora em que Rony começou a reclamar
que seus pés estavam dormentes de frio, Harry
identificou a armadura.
- É aqui... logo aqui...é.
Eles empurraram a porta. Harry deixou cair a capa
dos ombros e correu para o espelho.
Lá estavam eles Sua mãe e seu pai sorriam ao vê-lo.
- Está vendo? - Harry cochichou.
- Não consigo ver nada.
- Olhe! Olhe eles todos... ali, montes deles...
- Só consigo ver você.
- Olhe direito, vamos, fique aqui onde eu estou.
Harry deu um passo para o lado, mas com Rony
diante do espelho, não conseguiu mais ver sua família,
apenas Rony corno seu pijama de lã escocesa.
Rony; porém, estava mirando a própria imagem,
petrificado.
- Olhe só para mim! - exclamou.
- Você está vendo toda a sua família à sua volta?
- Não, estou sozinho, mas estou diferente... pareço
mais velho, e sou chefe dos monitores.
- O quê?
- Estou... estou usando um crachá igual ao do Gui...
e estou segurando a taça das casas e a taça de
quadribol, sou capitão do time de quadribol também!
Rony despregou os olhos dessa visão magnífica para
olhar excitado para Harry.
- Você acha que esse espelho mostra o futuro?
- Como pode mostrar? A minha família está toda
morta. Me deixe dar outra espiada.
- Você teve o espelho só para você a noite passada,
me deixa olhar mais um pouco.
- Você só está segurando a taça de quadribol, que
interesse tem isso? Eu quero ver os meus pais.
- Não me empurre...
Um ruído repentino do lado de fora no corredor
pós fim à discussão dos dois. Não tinham se dado conta
do como estavam falando alto.
- Depressa!
Rony atirou a capa de volta pata cobri-los na hora
que os olhos luminosos de Madame Nor-r-ra
apareceram à porta. Rony e Harry ficaram imóveis,
ambos pensando a mesma coisa - será que a capa fazia
efeito para os gatos? Passado um tempo que pareceu
uma eternidade, ela se virou e foi embora.
é perigoso. Ela pode ter ido buscar o Filch, aposto que nos
ouviu. Vamos.
E Rony puxou Harry pata fora do quarto.
A neve ainda não derretera na manhã seguinte.
Quer jogar xadrez, .Harry? - convidou Rony.
- Não.
- Por que não descemos para visitar Rúbeo?
- Não... vai você...
- Seio que é que você está pensando, Harry,
naquele espelho. Não volte lá hoje à noite.
que não?
Não sei, estou. com uma intuição ruim, e de qualquer
forma você já escapou por um triz muitas vezes,
demais. Filch
Snape e Madame Nor-r-ra estão andando
,
por lá. E dai se eles não conseguem ver você? E se
esbarrarem em você? E se você derrubar alguma coisa?
- Você está falando igual à Hermione.
- Estou falando sério. Harry, não vai não.
Harry só tinha um pensamento na cabeça, voltar para a frente do
espelho, e Rony não ia detê-lo.
Naquela terceira noite ele encontrou o caminho
ainda mais rapidamente do que nas anteriores.
Andava tão depressa que sabia que estava fazendo
mais barulho do que seria sensato, mas não
encontrou ninguém.
E lá estavam sua mãe e seu pai sorrindo de novo para ele, e um
dos seus avós acenava feliz com a cabeça. Harry se
abaixou para sentar no chão diante do espelho. Não
havia nada que pudesse impedi-lo de ficar ali a noite
inteira com a família. Nada.
A não ser..
o, outra vez aqui, Harry?
sentiu como se suas tripas tivessem congelado. Olhou
para trás. Sentado em uma das mesas junto à parede
estava ninguém menos que Alvo Dumbledore. Harry
devia ter passado direto por ele; tão desesperado estava
para chegar ao espelho, que nem reparara.
- Eu... eu não vi o senhor.
- E estranho como você pode ficar míope quando
está invisível - disse Dumbledore, e Harry sentiu alívio
ao ver que ele sorria.
- Então - continuou Dumbledore, escorregando da
cadeira até o chão para se sentar ao lado de Harry -
,você, como centenas antes de você, descobriu os
prazeres do Espelho de Ojesed.
- Eu não sabia que se chamava assim, professor.
- Mas espero que a essa altura você já tenha
percebido o que ele faz?
- Bom... me mostra a minha família...
- E mostrou o seu amigo Rony como chefe dos
monitores.
- Como é que o senhor soube?
- Eu não preciso de uma capa para me tornar
invisível - disse Dumbledore com brandura. - Agora,
você é capaz de concluir o que é que o Espelho de
Ojesed mostra a nós todos?
Harry sacudiu negativamente a cabeça.
- Deixe-me explicar. O homem mais feliz do
mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um
espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria
exatamente como é. Isso o ajuda a pensar?
Harry pensou. Então respondeu lentamente:
- Ele nos mostra o que desejamos... seja o que for
que desejemos...
- Sim e não - disse Dumbledore - Mostra-nos nada
mais nem menos do que o desejo mais intimo, mais
desesperado de nossos corações. Você, que nunca
conheceu sua família, a vê de pé a sua volta. Ronaldo
Weasley, que sempre teve os irmãos a lhe fazerem
sombra, vê-se sozinho, melhor que todos os irmãos.
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem
a verdade. Já houve homens que definharam diante
dele, fascinados pelo que viam, ou enlouqueceram sem
saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer
possível.
"O espelho vai ser levado para uma nova casa
amanhã, Harry; e peço que você não volte a procurá-lo.
Se algum dia o encontrar, estará preparado. Não faz
bem viver sonhando e se esquecer de viver, lembre-se.
E agora, por que você não põe essa capa admirável
outra vez e vai dormir?"
Harry se levantou.
- Senhor, Prof. Dumbledore? Posso lhe perguntar
uma corsa?
- Obviamente você acabou de me perguntar -
sorriu Dumbledore. - Mas pode me perguntar mais uma
coisa.
- O que é que o senhor vê quando se olha no
espelho?
- Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas
meias de lã.
Harry arregalou os olhos
- As meias nunca são suficientes. Mais um Natal
chegou e passou e não ganhei nem um par As pessoas
insistem em me dar livros.
Foi somente quando estava de volta à cama que
ocorreu a Harry que talvez Dumbledore não tivesse
dito a verdade. Mas, pensou, enquanto empurrava
Pereba para longe do seu travesseiro, fizera uma
pergunta muito pessoal.

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