sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Harry Potter ... E a Pedra Filosofal ( Cap IX )

- CAPÍTULO NOVE -
O
duelo á meia-noite
Harry jamais acreditara que fosse encontrar um
garoto que ele detestasse mais do que Duda, mas isto
foi antes de conhecer Drago. Os alunos do primeiro ano
da Grifinória, porém, só tinham uma aula com os da
Sonserina, a de Poções, por isso não precisavam aturar
Drago muito tempo. Ou pelo menos, não precisavam
até verem um aviso pregado no salão comunal de
Grinfinória que fez todos gemerem. As aulas de vôo
começariam na quinta-feira - e os alunos das duas casas
aprenderiam juntos.
- Típico - disse Harry desanimado. - E o que eu
sempre quis Fazer papel de palhaço montado numa
vassoura na frente do Drago.
Ele estivera ansioso para aprender a voar, mais do
que qualquer outra coisa.
- Você não sabe se vai fazer papel de palhaço -
disse Rony sensata - Em todo o caso, sei que Drago
vive falando que é bom em quadribol, mas aposto que é
conversa fiada.
Drago sem dúvida falava muito de vôos.
Queixava-se em voz alta que os alunos do primeiro ano
nunca entravam para o time de quadribol e se gabava
em longas histórias, que sempre pareciam terminar com
ele escapando por um triz dos trouxas de helicóptero.
Mas ele não era o único: pelo que Simas Finnigan
contava, ele passara a maior parte da infância voando
pelo campo montado numa vassoura. Até Rony contava
para quem quisesse ouvir sobre a vez em que ele quase
batera numa asa delta montado na velha vassoura de
Carlinhos. Todos os garotos de famílias de bruxos
falavam. o tempo todo de quadribol Rony já tivera uma
grande discussão sobre futebol com Dino Thomas, que
também usava o dormitório deles. Rony não via nada
excitante em um
jogo em que ninguém podia voar e só tinha uma bola.
Harry surpreendera Rony cutucando o poster em que
Dino aparecia como time de futebol de West Ham,
tentando fazer os jogadores se mexerem.
Neville nunca andara de vassoura na vida, porque
a avo nunca o deixara chegar perto de uma. No fundo,
Harry achava que ela estava certíssima, porque Neville
conseguira sofrer um número impressionante de
acidentes mesmo com os dois pés no chão.
Hermione Granger estava quase tão nervosa
quanto Neville com a idéia de voar. Isto não era coisa
que se aprendesse de cor em um livro - não que ela não
tivesse tentado. No café da manhã de quinta-feira, deu
um cansaço neles falando sobre macetes de vôo que
lera em um livro da biblioteca chamado
Quadribol
através
dos
séculos.
Neville praticamente se
pendurava em cada palavra que ela dizia, desesperado
para aprender qualquer coisa que o ajudasse a se
segurar na vassoura mais tarde, mas todos os outros
ficariam muito felizes quando a conferência de
Hermione foi interrompida pela chegada do correio.
Harry não recebera nenhuma carta desde o bilhete
de Hagrid, uma coisa que Drago não demorara nada a
notar, é claro. A coruja de Drago estava sempre lhe
trazendo de casa pacotes de doces, que ele abria
fazendo farol na mesa da Sonserina.
Uma coruja de curral trouxe para Neville um
pacotinho da avó. Ele o abriu excitado e mostrou a
todos uma bolinha de vidro do tamanho de uma bola de
gude grande, que parecia cheia de fumaça branca.
- É um Lembrol! - explicou ele. - Vovó sabe que
sou esquecido. Isto serve para avisar que a gente
esqueceu de fazer alguma coisa. Olhe, aperte assim e
ele fica vermelho, ah... - E ficou sem graça, porque o
Lembro! de repente emitiu uma luz escarlate -...você
esqueceu alguma coisa...
Neville estava tentando se lembrar do que
esquecera quando Drago, que ia passando pela mesa ia
Grifinória, arrancou o Lembrol de sua mão.
Harry e Rony puseram-se imediatamente de pé.
Andavam querendo um motivo para brigar com Drago,
mas a Profa. Minerva, que era capaz de identificar uma
confusão mais depressa do que qualquer outro
professor da escola, num segundo estava lá.
- Que é que está acontecendo?
- Drago tirou o meu Lembrol, professora.
Mal-humorado, Drago mais do que depressa
largou o Lembrol na mesa.
- Só estava olhando - falou, e saiu de fininho com
Crabbe e Goyle na esteira.
As três e meia, aquela tarde, Harry,
Rony e os outros garotos da Grifinória
desceram correndo as escadas que
levavam para fora do castelo para a
primeira aula de vôo. Era um dia claro,
com uma brisa fresca e a grama ondeava
pelas encostas sob seus pés ao
caminharem em direção a um gramado
plano que havia do lado oposto à
floresta proibida, cujas árvores
balançavam sinistramente a distancia
Os garotos da Sonserina já estavam lá, bem como
as vinte vassouras arrumadas em fileiras no chão.
Harry ouvira Fred e Jorge Weasley se queixarem das
vassouras da escola, dizendo que havia umas que
começavam a vibrar quando voavam muito alto, ou
sempre repuxavam ligeiramente para a esquerda.
A professora, Madame Hooch, chegou. Tinhas
cabelos curtos e grisalhos é olhos amarelos como os de
um falcão
- Vamos, o que é que estão esperando? - perguntou
com rispidez. - Cada um ao lado de uma vassoura.
Vamos, andem logo.
Harry olhou para a vassoura. Era velha e tinha
algumas palhas espetadas para fora em ângulos
estranhos.
- Estiquem a mão direita sobre a vassoura -
mandou Madame Hooch diante deles - e digam "Em
pé!"
- EM PÉ! -- gritaram todos.
A vassoura de Harry pulou imediatamente para sua
mão, mas foi uma das poucas que fez isso. A de
Hermione Cranger simplesmente se virou no chão e a
de Neville nem se mexeu. Talvez as vassouras corno os
cavalos, percebessem quando a pessoa estava com
medo, pensou Harry; havia um tremor na voz de
Neville, que dizia com demasiada
clareza que ele queria manter os pés no chão.
Madame Hooch, em seguida, mostrou-lhes como
montar as vassouras sem escorregar pela outra
extremidade, e passou pelas fileiras de alunos
corrigindo a maneira de segurá-la. Harry e Rony
ficaram contentes quando ela disse a Drago que ele
segurava a vassoura errado havia anos.
- Agora, quando eu apitar, dêem um impulso forte
com os pés - disse a professora. - Mantenham as
vassouras firmes, saiam alguns centímetros do chão e
voltem a descer curvando o corpo um pouco para a
frente. Quando eu apitar... três... dois..
Mas Neville, nervoso, assustado, e com medo que
a vassoura o largasse no chão, deu um impulso forte
antes mesmo de o apito tocar os lábios de Madame
Hooch.
- Volte, menino! - gritou ela, mas Neville subiu
como uma rolha que sai sob pressão da garrafa, quatro
metros, seis metros. Harry viu a cara de Neville branca
de medo espiando para o chão enquanto ganhava
altura, viu-o exclamar, escorregar de lado para fora da
vassoura e...
- BUMBA! - um baque surdo, um ruído de fratura
e Neville caindo de borco na grama, estatelado. Sua
vassoura continuou a subir cada vez mais alto e
começou a flutuar sem pressa em direção à floresta
proibida e desapareceu de vista,
Madame Hooch se debruçou sobre Neville, o rosto
tão branco quanto o dele.
- Pulso quebrado - Harry ouviu-a murmurar -
Vamos, menino, levante-se.
Virou-se para o restante da classe.
- Nenhum de vocês vai se mexer enquanto levo
este menino ao hospital! Deixem as vassouras onde
estão ou vão ser expulsos de Hogwarts antes de
poderem dizer "quadribol". Vamos, querido.
Neville, o rosto manchado de lagrimas, segurando
o pulso, saiu mancando em companhia de Madame
Hooch, que o abraçava pelos ombros.
Assim que se distanciaram e ficaram fora do
campo de audição da classe, Drago caiu na gargalhada.
- Vocês viram a cara dele, o panaca?
Os outros alunos da Sonserina fizeram coro.
- Cala a boca, Drago - retrucou Parvati Patil.
- Uuuu, defendendo o Neville? - disse Pansy
Parkinson, uma aluna da Sonserina de feições dura -
Nunca pensei que você gostasse de manteiguinhas
derretidas, Parvati.
- Olhe! - disse Drago, atirando-se para a frente e
recolhendo alguma coisa na grama. - E aquela porcaria
que a avó do Neville mandou.
O Lembrol cintilou ao sol quando o garoto o
ergueu.
- Me dá isso aqui, Drago - falou Harry em voz
baixa. Todos pararam de conversar para espiar,
Drago soltou uma risadinha malvada.
- Acho que vou deixá-la em algum lugar para
Neville apanhar, que tal em cima de uma árvore?
- Me dá isso aqui - berrou Harry, mas Drago
montara na vassoura e saíra voando. Ele não mentira,
sabia voar bem, e planando ao nível dos ramos mais
altos de um carvalho desafiou:
- Venha buscar, Potter!
Harry agarrou a vassoura.
- Não! - gritou Hermione Granger - Madame
Hooch disse para a gente não se mexer Vocês vão nos
meter numa enrascada.
Harry não lhe deu atenção. O sangue palpitava em
suas orelhas. Ele montou a vassoura, deu um impulso
com força e subiu, subiu alto, o ar passou veloz pelo
seu cabelo e suas vestes se agitaram com força para trás
- e numa onda de feroz alegria ele percebeu que
encontrara alguma coisa que era capaz de fazer sem
ninguém lhe ensinar - isto era fácil, era
maravilhoso.
Puxou a vassoura para o alto para subir ainda mais e
ouviu gritos e exclamações das garotas lá no chão e um
viva de admiração do Rony;
Virou a vassoura com um gesto brusco ficando de
frente para Drago, que planava no ar. O garoto estava
abobalhado.
- Me dá isso aqui - mandou Harry - ou vou
derrubar você dessa vassoura!
- Ah é? - retrucou Drago, tentando caçoar, mas
parecendo preocupado.
Harry de alguma maneira. sabia o que fazer.
Curvou-se para a frente, segurou a vassoura com
firmeza com as duas mãos e ela disparou na direção de
Drago como uma lança. Drago só conseguiu escapar
por um triz; Harry fez uma curva fechada e manteve a
vassoura firme. Algumas pessoas no chão aplaudiam.
Aqui não tem Crabbe nem Goyle para salvarem
sua pele, Drago - berrou Harry;.
O mesmo pensamento parecia ter ocorrido a
Drago.
- Apanhe se puder, então! - gritou, atirou a bolinha
de cristal no ar e voltou para o chão.
Harry viu, como se fosse em câmara lenta, a
bolinha subir no ar e começar a cair. Ele se curvou para
a frente e apontou o cabo da vassoura para baixo - no
instante seguinte estava ganhando velocidade num
mergulho quase vertical, apostando corrida com a
bolinha - o vento assobiava em suas orelhas, misturado
aos gritos das pessoas que olhavam - ele esticou a mão
- a uns trinta centímetros do solo agarrou-a, bem em
tempo de levar a vassoura à posição vertical, e caiu
suavemente na grama com o Lembrol salvo e seguro na
mão.
- HARRY POTTER!
Ele perdeu a animação mais depressa do que
quando mergulhara. A Profa. Minerva vinha correndo
em direção à turma. Ele se levantou tremendo.
- Nunca...
em todo o tempo que estou em
Hogwarts...
A Profa. Minerva quase perdeu a fala de espanto e
seus óculos cintilavam sem parar, "... como é que você
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se
atreve...
podia ter partido o pescoço...
- Não foi culpa dele, professora...
- Calada, Senhorita Patil..
- Mas Drago...
-
Chega,
Sr. Weasley Potter, me acompanhe,
agora.
Harry viu as caras vitoriosas de Drago, Crabbe e
Goyle ao sair acompanhando, espantado, a Profa.
Minerva, que seguiu para o castelo. Ia ser expulso,
sabia. Queria dizer alguma coisa para se defender, mas
parecia ter acontecido alguma coisa com a sua voz.
A Profa. Minerva caminhava decidida, sem nem olhar
para trás;
ha que correr para acompanhar seu passo Agora se enrascara.
Não tinha durado nem duas semanas. Estaria fazendo
as malas dali a dez minutos. Que iriam dizer os Dursley
quando ele aparecesse à porta da casa?
Subiram os degraus da entrada, subiram a
escadaria de mármore, e a Profa. Minerva continuava a
não dizer nada. Escancarava portas e marchava pelos
corredores com Harry trotando infeliz atrás dela.
Talvez ela o levasse a Dumbledore. Pensou em Hagrid,
aluno expulso a quem tinham permitido continuar na
escola como guarda-caça. Talvez virasse assistente de
Hagrid. Seu estômago revirava só de pensar,
observando Rony e os outros se tornarem bruxos
enquanto ele andava pela propriedade carregando a
bolsa de Hagrid.
A Profa. Minerva parou à porta de uma sala de
aula. Abriu a porta e meteu a cabeça para dentro.
- Com licença, Prof. Flitwick, nosso pedir o Wood
emprestado por um instante?
Wood? pensou Harry, intrigado; Wood seria
alguma coisa que ela ia usar para castigá-lo?
Mas Wood afinal era uma pessoa, um menino forte
do quinto ano, que saiu da sala de Flitwick parecendo
confuso.
- Vocês dois me sigam - disse a Profa. Minerva, e
continuaram todos pelo corredor, Wood examinando
Harry com curiosidade.
- Entrem.
A Profa. Minerva indicou uma sala de aula que
estava vazia exceto por Pirraça, que se ocupava em
escrever palavrões no quadro-negro.
- Fora, Pirraça! - ordenou ela. Pirraça atirou o giz
em uma cesta, produzindo um eco metálico e alto e
saiu xingando. A Profa. Minerva bateu a porta atrás
dele e virou-se para encarar os dois garotos.
- Harry Potter, este é Olívio Wood. Olívio...
encontrei um apanhador para você.
A expressão de Olívio mudou de confusão para
prazer. Está falando sério, professora?
Seríssimo - resumiu a Profa. Minerva. O menino
tem um talento natural Nunca vi nada parecido. Foi a
primeira vez que montou numa vassoura, Harry?
Harry confirmou com a cabeça. Não tinha a menor
idéia do que estava acontecendo mas parecia que não
estava sendo expulso, e começou a recuperar um pouco
da sensibilidade nas pernas.
- Ele apanhou aquela coisa com a mão depois de
um mergulho de mais de 15 metros - a Profa. Minerva
contou a Wood.
- Não sofreu um único arranhão. Nem Carlinhos
Weasley seria capaz de fazer igual.
Olívio parecia agora alguém cujos sonhos tinham
virado realidade, todos ao mesmo tempo.
- Você já assistiu a um jogo de quadribol, Potter? -
perguntou excitado.
- Wood é o capitão do time da Grifinória -
explicou a Profa. Minerva.
- E tem o físico perfeito para um apanhador -
acrescentou Olívio agora andando a volta de Harry,
examinando-o. - Leve, veloz, vamos ter de arranjar
uma vassoura decente para ele, professora, uma
Nimbus 2000 ou uma Cleansweep-7, na minha opinião,
- Vou conversar com o professor Dumbledore e
ver se podemos contornar o regulamento para o
primeiro ano. Deus sabe que precisamos de um time
melhor do que o do ano passado.
Esmagado
naquele
ultimo jogo contra os sonserinos. Mal consegui encarar
Severo Snape no rosto durante semanas...
A Profa. Minerva espiou Harry com severidade por
cima dos óculos.
- Quero ouvir falar que você está treinando com
vontade, Potter, ou posso mudar de idéia quanto ao
castigo que merece.
Então, inesperadamente, ela sorriu.
- Seu pai teria ficado orgulhoso. Era um excelente
jogador de quadribol.
- Você está
brincando.
Era hora do jantar Harry acabara de contar a Rony
o que acontecera quando deixara os jardins da
propriedade com a Profa. Minerva. Rony tinha um
pedaço de bife e pastelão de rins a meio caminho da
boca, mas esqueceu o que estava fazendo.
- Apanhador? -
exclamou. - Mas os alunos do
primeiro ano
nunca,
você vai ser o jogador da casa
mais
novo do último...
-
Século
-
completou Harry; enfiando o pastelão na
boca. Sentia-se particularmente faminto depois da
agitação da tarde. -Olívio me disse.
Rony estava tão admirado, tão impressionado, que
ficou ali sentado de boca aberta para Harry.
- Vou começar a treinar na próxima semana -
anunciou Harry. - Só não conte a ninguém, Olívio quer
fazer segredo.
Fred e Jorge Weasley entraram nesse momento no
salão, virara Harry e foram depressa falar com ele.
- Grande lance - falou Jorge em voz baixa. - Olívio
nos contou. Estamos no time também... batedores.
- Sabe de uma coisa, tenho certeza de que vamos
ganhar a taça de quadribol deste ano - disse Fred. - Não
ganhamos desde que Carlinhos terminou a escola, mas
o time deste ano vai ser brilhante. Você deve ser bom,
Harry; Olívio estava quase dando pulinhos quando nos
contou.
- Em todo o caso, temos de ir, Lino Jordan acha
que encontrou uma nova passagem secreta para sair da
escola.
Fred e Jorge mal tinham desaparecido quando
alguém menos bem-vindo apareceu: Drago, ladeado
por Crabbe e Goyle.
- Comendo a última refeição, Harry? Quando vai
pegar o trem de volta para a terra dos trouxas?
- Você está bem mais corajoso agora que voltou ao
chão e está acompanhado por seus amiguinhos - disse
Harry tranqüilo. Não havia nada "inho" em Crabbe nem
em Goyle, mas como a mesa principal estava repleta de
professores, os garotos só podiam estalar as juntas e
fazer cara feia.
- Enfrento você a qualquer hora sozinho - disse
Draga. - Hoje
à noite, se você quiser. Duelo de bruxos. Só varinhas,
sem contato. Que foi? Nunca ouviu falar de duelo de
bruxos, suponho?
- Claro que já - respondeu Rony virando-se. Vou
ser o padrinho dele, quem vai ser o seu?
Drago mirou Crabbe e Goyle medindo-os.
- Crabbe, meia-noite está bem? Nos encontramos
na sala de troféus, está sempre destrancada.
Quando Drago foi embora, Rony e Harry se
entreolharam.
- O que é um duelo de bruxos? - perguntou Harry.
- E o que você quis dizer quando se ofereceu para ser
meu padrinho?
- Bom, o padrinho fica lá para tomar o seu lugar se
você morrer - disse Rony com displicência, começando
finalmente a comer o pastelão frio. Surpreendendo a
expressão no rosto de Harry, acrescentou bem
depressa: - Mas as pessoas só morrem em duelos de
verdade, sabe, com bruxos de verdade. O máximo que
você e Drago conseguirão fazer será atirar fagulhas um
no outro. Nenhum dos dois conhece magia suficiente
para fazer estragos. Mas aposto que ele esperava que
você recusasse.
- E se eu agitar minha varinha e nada acontecer?
- Jogue a varinha fora e meta-lhe um soco na cara -
sugeriu Rony.
- Com licença.
Os dois ergueram os olhos. Era Hermione Granger.
- Será que a pessoa não pode comer sossegada
neste lugar? - exclamou Rony.
Hermione não ligou para ele e se dirigiu a Harry
- Não pude deixar de ouvir o que você e Drago
estavam dizendo...
- Aposto que podia - resmungou Rony.
e você não deve andar pela escola a noite, pense
nos pontos que vai perder para a Grifinória se for pego,
e você vai ser E muito egoísmo da sua parte.
- E, para falar a verdade, não é da sua conta -
respondeu Harry.
- Tchau- disse Rony.
Em todo o caso, não era o que se poderia chamar
de um final perfeito para o dia, pensou Harry, muito
mais tarde, deitado na cama sem dormir, percebendo
Dino e Simas adormecerem.
(Neville não voltara do hospital). Rony passou a noite
toda lhe dando conselhos do tipo "Se ele tentar lançar
um feitiço, é melhor você tirar o corpo fora, porque não
consigo me lembrar como se fecha o corpo". Havia
uma boa chance de serem pegos por Filch ou por
Madame Nor-r-ra, e Harry sentiu que estava abusando
da sorte, desrespeitando mais um regulamento da
escola no mesmo dia. Por outro lado, a cara de deboche
de Drago não parava de lhe aparecer no escuro - essa
era sua grande oportunidade de vencer Drago cara a
cara. Não podia perdê-la.
- Onze e trinta - Rony cochichou finalmente, é
melhor irmos.
Eles vestiram os robes, apanharam as varinhas e
atravessaram sorrateiros o quarto da torre, desceram a
escada em espiral e entraram na sala comunal da
Grifinória. Algumas brasas ainda rutilavam na lareira,
transformando todas as poltronas em sombras
corcundas. Tinham quase chegado à abertura no retrato
quando urna voz falou da poltrona mais próxima.
- Não posso acreditar que você vai fazer isso,
Harry.
Uma lâmpada se acendeu. Era Hermione Granger,
de robe cor-de-rosa e cara fechada.
- Você!-
exclamou Rony furioso. - Volte para a
cama!
-
Quase contei ao seu irmão
-
retorquiu Hermione.
- Percy; ele é monitor, ia acabar com essa história
Harry não conseguiu acreditar que alguém pudesse
ser tão metido
- Vamos - chamou Rony. Afastou o retrato da
Mulher Gorda com um empurrão e passou pela
abertura.
Hermione não ia desistir com tanta facilidade.
Seguiu Rony pela abertura do retrato, sibilando para os
dois como um ganso raivoso.
- Vocês não se importam com a Grifinória, vocês
se importam com vocês mesmos,
eu
não quero que a
Sonserina ganhe a taça de casa e vocês vão perder
todos os pontos que ganhei com a Profa. Minerva por
saber a Troca de Feitiços.
- Vai embora.
- Tudo bem, mas eu preveni vocês,
lembrem-se do que eu
disse quando estiverem amanhã no trem
voltando para casa, vocês são tão...
Mas o que eram, eles não chegaram a saber
Hermione se virara para o retrato da Mulher Gorda
para tornar a entrar e se viu diante de um quadro vazio.
A Mulher Gorda tinha saído para fazer uma Visita
noturna e Hermione ficou trancada do lado de fora da
torre da Grifinória.
- Agora o que é que eu vou fazer? - perguntou com
a voz esganiçada.
- O problema é seu - disse Rony. - Nós temos de ir,
se não vamos nos atrasar.
Nem tinham chegado ao fim do corredor quando
Hermione os alcançou.
- Vou com vocês.
- Não vai, não.
- Vocês acham que vou ficar parada aqui,
esperando o Filch me pegar? Se ele encontrar os três,
conto a verdade, que eu estava tentando impedir vocês
de saírem e vocês podem confirmar.
- Mas que cara-de-pau - disse Rony bem alto.
- Calem a boca, vocês dois - disse Harry
bruscamente. - Ouvi uma coisa.
Era como se alguém estivesse farejando.
- Madame Nor-r-ra? - murmurou Rony, apertando
os olhos para enxergar no escuro.
Não era Madame Nor-r-ra. Era Nevil1e. Estava
enroscado no chão, dormindo a sono solto, mas
acordou repentinamente assustado quando eles se
aproximaram.
- Graças a Deus que vocês me encontraram! Estou
aqui há horas, não consegui me lembrar da nova senha
para entrar no quarto.
- Fale baixo, Neville. A senha é "focinho de
porco", mas não vai lhe adiantar nada agora, a Mulher
Gorda saiu.
- Como está o braço? - perguntou Harry.
- Ótimo - disse Neville mostrando. - Madame
Pomfrey consertou-o na hora.
- Que bom, olhe, Neville, temos deita um lugar,
vemos você depois.
Não me deixem aqui! - pediu Neville pondo-se de
pé. - Não quero ficar sozinho, o barão Sangrento já
passou por aqui duas vezes.
Rony consultou o relógio e em seguida fez uma
cara furiosa para Herminione e Neville.
- Se formos pegos por causa de vocês, não vou
sossegar até aprender aquela Poção do Morto-Vivo que
Quirrell falou e vou usá-la contra vocês.
Herminione abriu a boca, talvez para dizer a Rony
exatamente como usar o Feitiço do Morto-Vivo, mas
Harry mandou-a ficar quieta e fez sinal para
prosseguirem.
Passaram quase voando pelos corredores listrados
pelo luar que entrava pelas grades das janelas altas. A
cada curva Harry esperava topar com Flich ou com
Madame Nor-r-ra, mas tiveram sorte.
Subiram correndo uma escada até o terceiro andar
e, nas pontas dos pés, dirigiram-se a sala dos troféus.
Drago e Crabbe ainda não tinham chegado. As
vitimes de cristal onde estavam guardados os troféus
refulgiam quando tocadas pelo luar Taças, escudos,
pratos e estátuas piscavam no escuro com lampejos
prateados e dourados. Eles caminharam rente às
paredes, mantendo os olhos nas portas de cada lado da
sala. Harry tirou a varinha da caixa para o caso de
Drago aparecer de repente e começar a duelar. Os
minutos passaram vagarosos.
- Ele está atrasado, quem sabe se acovardou - Rony
sussurrou Então um atido na sala ao lado os
sobressaltou fiara; acabara de erguer a varinha quando
ouviram alguém falar e não era Drago.
- Vá farejando, minha querida, eles podem estar
escondidos em algum canto.
Era Filch falando com Madame Nor-r-ra.
Horrorizado, Harry fez sinais frenéticos para os outros
três o seguirem o mais depressa possível; e fugiram
silenciosos em direção à porta mais distante da voz de
Filch. As vestes de Neville mal tinham acabado de
passar a curva quando ouviram Filch entrar na sala dos
troféus.
Eles estão por aqui - ouviram-no resmungar -,
provavelmente escondidos.
- Por aqui! - disse Harry; apenas mexendo a boca,
para os outros e, petrificados, eles começaram a descer
urna longa galena cheia de armaduras. Podiam ouvir
Filch se aproximando. Neville de repente, soltou um
guincho assustado e saiu correndo. Tropeçou, agarrou
Rony pela cintura e os dois desabaram em cirna de uma
armadura.
A queda e o estrépito foram suficientes para
acordar o castelo inteiro.
- CORRAM! - gritou Harry e os quatro
desembestaram pela galeria, sem virar a cabeça para
ver se Filch os seguia. Fizeram a curva firmando-se no
alisar da porta e saíram galopando por um corredor
atrás do outro, Harry na liderança, sem a menor idéia
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de onde estavam nem que direção tornavam.
Atravessaram uma tapeçaria, rasgando-a e encontraram
uma passagem secreta, precipitaram-se por ela e foram
sair perto da sala de aula de Feitiços, que sabiam estar a
quilômetros da sala dos troféus.
- Acho que o despistamos - ofegou Harry,
apoiando-se na parede fria e enxugando a testa. Neville
estava dobrado em dois, chiava e falava
desconexamente.
- Eu...
disse...
a vocês - Hermione falou sem
fôlego, agarrando o bordado no peito. - Eu... disse... a
vocês
- Temos de voltar à torre de Grifinória - lembrou
Rony -, o mais rápido possível.
- Drago enganou você - disse Hermione a Harry. -
Já percebeu isso, não? Não ia enfrentar você. Filch
sabia que alguém ia estar na sala dos troféus. Drago
deve ter contado a ele.
Harry achou que ela provavelmente tinha razão,
mas não ia dar o braço a torcer.
- Vamos.
Não ia ser tão simples Não tinham caminhado nem
dez passos quando ouviram o barulho de uma maçaneta
e alguma coisa disparou da sala de aula à frente deles.
Era Pirraça- Avistou os garotos e soltou um
guincho de prazer.
- Cale a boca, Pirraça, por favor, você vai fazer a
gente Ser expulso.
Pirraça soltou uma gargalhada.
Passeando por aí à meia-noite, aluninhos? Tsk, tsk.
Que feinhos, vão ser apanhadinhos.
- Não, se você não nos denunciar, Pirraça, por
favor.
- Devia contar ao Filch, devia - disse Pirraça bem
comportado, mas seus olhos cintilaram de maldade. - E
para o seu próprio bem, sabem?- Saia da frente - disse Rony com rispidez
baixando o braço em Pirraça. Foi um grande erro.
- ALUNOS FORA DÁ CAMA! - berrou Pirraça. -
ALUNOS FORA DA CAMA NO CORREDOR DO
FEITIÇO!
Passando por baixo de Pirraça eles saíram
desembalados até o final do corredor onde depararam
com uma porta... fechada.
- Acabou-se! - gemeu Rony, empurrando
inutilmente a porta - Estamos ferrados! É o fim!
Ouviram passos, Filch correndo a toda em direção
aos gritos de Pirraça.
- Ah, sai da frente -. Hermione resmungou
aborrecida. Agarrando a varinha de Harry, bateu na
fechadura e murmurou:
- Alorromora!
A fechadura deu um estalo e a porta se abriu - eles
se atropelaram por ela, fecharam-na e apuraram os
ouvidos, à escuta.
- Para que lado eles foram, Pirraça? - era Filch
perguntando.
- Depressa, me diga.
- Peça "por favor".
- Não me enrole, Pirraça, vamos, para que lado
eles foram?
- Não digo nada se você não pedir "por favor" -
disse Pirraça na cantilena irritante com que falava.
- Está bem,
por favor.
NADA! Na haaa! Eu disse a você que não dizia
nada se você não pedisse por favor! Ha ha! Haaaaaa! -
E ouviram Pirraça voar rápido para longe e Filch
xingar com raiva.
- Ele acha que a porta está trancada! - Harry falou.
- Acho que escapamos. Sai para lá, Neville! - Neville
puxava a manga do robe de Harry fazia um minuto. -
Que foi?
Harry se virou - e viu, muito claramente, o que foi.
Por um instante teve a certeza de que entrara num
pesadelo - era demais depois de tudo o que já
acontecera.
Não estavam numa saia, conforme ele supusera.
Achavam-se num corredor O corredor proibido do
terceiro andar E agora sabiam por que era proibido.
Estavam encarando os olhos de um cachorro
monstruoso, um cachorro que ocupava todo o espaço
entre o teto e o piso. Tinha três cabeças Três pares de
olhos que giravam enlouquecidos; três narizes, que
franziam e estremeciam farejando-os; três bocas
babosas, a saliva escorrendo em cordões viscosos das
presas amarelas.
Estava muito firme, os olhos a observá-los, e Harry
sabia que a única razão por que ainda estavam vivos
era que o seu repentino aparecimento apanhara o
cachorro de surpresa, mas ele já estava se recuperando
e depressa, não havia dúvida quanto ao significado
daqueles rosnados de ensurdecer.
Harry tateou à procura da maçaneta - entre Filch e
a morte, ficava com o Filch.
Retrocederam. Harry bateu a porta e eles correram,
quase voaram pelo corredor Filch devia ter tido pressa
para procurá-los em outro lugar porque não o viram em
parte alguma, mas nem se importaram - a única coisa
que queriam era abrir a maior distância possível entre
eles e o monstro. Não pararam de correr até chegarem
ao retrato da Mulher Gorda no sétimo andar.
- Onde foi que vocês andaram? - perguntou ela,
olhando para os robes que caiam soltos dos ombros e
os rostos vermelhos e suados.
- Não interessa. Focinho de porco, focinho de
porco - ofegou Harry, e o quadro girou para a frente.
Eles entraram de qualquer jeito na sala comunal e
Rony ficou olhando para ela, de boca aberta.
- Não, não nos importamos. Qualquer um pensaria
que nós a arrastamos conosco, não é mesmo.
Mas Hermione tinha dado a Harry algo em que
pensar quando voltou para a cama. O cachorro estava
guardando alguma coisa... Que era que Hagrid tinha
dito? Gringotes era o lugar mais seguro do mundo
quando se queria esconder alguma coisa - com exceção
talvez de Hogwarts.
Parecia que Harry descobrira onde o pacotinho
encalombado do cofre setecentos e treze tinha ido
parar.
Rony ficou olhando para ela, de boca aberta.
- Não, não nos importamos. Qualquer um pensaria
que nós a arrastamos conosco, não é mesmo.
Mas Hermione tinha dado a Harry algo em que
pensar quando voltou para a cama. O cachorro estava
guardando alguma coisa... Que era que Hagrid tinha
dito? Gringotes era o lugar mais seguro do mundo
quando se queria esconder alguma coisa - com exceção
talvez de Hogwarts.
Parecia que Harry descobrira onde o pacotinho
encalombado do cofre setecentos e treze tinha ido
parar.